Mostra Internacional de Cinema Fantástico será realizada em Goiânia entre os dias 12 e 16 de dezembro e contará com a presença dos mais icônicos e renomados diretores, cinéfilos e especialistas em cinema de gênero do Brasil
O cinema de gênero toma conta do Cine Cultura, em Goiânia, entre os dias 12 e 16 de dezembro. Serão 74 filmes vindos de 21 países, além de lançamentos de livros, debates e oficinas gratuitas. A décima edição da Mostra Internacional de Cinema Fantástico – CRASH chega como resistência e ruptura. “A palavra crash remete a uma ideia de quebra, ruptura e há algo de potente e dinâmico nesta expressão tão utilizada como onomatopéia nas histórias em quadrinhos. Quebra, ruptura, potência e dinamismo estão no cerne do tipo de cinema que buscamos trazer à tela do festival. Por outro lado, para quem nos acompanha desde o princípio, é moleza estabelecer uma associação com a velha alcunha trash”, explicam os organizadores da mostra, Márcio Jr. e Márcia Deretti, da MMarte Produções.
O mais antigo festival de cinema produzido em Goiás, em voga desde a década de 1990, foi até 2017 chamado de TRASH, uma referência às produções caseiras e de baixo orçamento produzidas nas décadas de 1980 e 1990, geralmente em fitas VHS. Hoje, o termo não traduz mais a realidade. A palavra trash está mais ligada ao gênero (terror, sobretudo) do que à qualidade. “Por isso, já advertíamos ano passado que de trash, na TRASH, só o nome e logo mais nem isso. É um festival internacional de cinema fantástico de qualidade irrepreensível, feito por e para quem ama cinema”, enfatizam os organizadores.
Essa “ruptura”, entretanto, levou três edições consecutivas para acontecer. Durante, esses anos de transição, a mostra se internacionalizou e amadureceu o propósito de divulgar o cinema de gênero, que inclui terror, ficção científica e fantasia. Por isso, a décima edição apresentada este ano, sob novo nome, se torna tão emblemática e consolida toda uma história pioneira em Goiás não só no que tange ao cinema de gênero, mas também à produção de festivais de cinema no estado.
A Arte como um campo de luta e resistência
Além de oferecer uma programação vasta e gratuita à população, que inclui filmes, oficinas e debates, dentre outras atividades, a 10ª CRASH assume grande importância ao trazer à tona a reflexão acerca do papel do cinema de gênero na construção ou desconstrução de ideologias. “O Brasil vive dias sombrios, com o futuro se revelando ainda mais negro e assustador. Em panoramas similares, o cinema fantástico sempre ofereceu respostas à altura dos dilemas de sua época”, analisa Márcio Júnior, que é mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutorando em Arte e Cultura Visual pela mesma universidade. Deretti complementa: “Em películas como Nosferatu, O Gabinete do Dr. Caligari e Metrópolis, o expressionismo alemão anteviu e fez contundentes alertas à chegada do nazismo. Durante as décadas de 1950 e 1960, os filmes B americanos trataram de forma única o macarthismo, a Guerra Fria e a paranóia nuclear. O cinema fantástico tem, portanto, essa inesgotável capacidade de problematizar questões que nos afligem hoje”. Traduzindo em miúdos, é o que o emblemático escritor de ficção científica Philip K. Dick chamaria de “choque de desreconhecimento”, a crítica da própria sociedade por meio das alegorias criadas por obras que distorcem a realidade tal e qual a vemos a olho nu.
10ª CRASH: Crítica e resistência
Com este viés em mente, Márcia Deretti e Márcio Jr. reuniram os mais renomados especialistas para compor a curadoria do festival: Carlos Primati e Beatriz Saldanha (especialistas em cinema de gênero), o cineasta udigrúdi (cinema marginal ou de invenção) Gurcius Gwedner e o cinéfilo André LDC. Foram selecionados 74 filmes (sendo dez destes de longa-metragem) de mais de 20 países, “que divertem ao mesmo tempo que escarafucham nossas mais terríveis mazelas contemporâneas”. “Fascismo, tortura, homofobia, regimes ditatoriais, repressão sexual, autoritarismo e violência são dissecados através das lentes do terror, da ficção científica e da fantasia”, dizem Deretti e Márcio Jr. O evento também traz, além dos filmes, mesas de debates, oficinas e lançamentos de livro.
Este ano, serão três oficinas: Efeitos Especiais em Maquiagem com Rodrigo Aragão, a se realizar no dia 15 de dezembro, no Centro Cultural Marieta Telles Machado; Direção de Atores para Filmes de Terror com Paulo Biscaia Filho, a se realizar nos dias 14 e 15 de dezembro, no Centro Cultural Martim Cererê; e Horror Britânico: Uma Orgia de Sangue e Pavor com Carlos Primati, a se realizar nos dias 13 e 14 de dezembro, na Escola Goiana de Desenho Animado. As inscrições estão abertas pelo site www.mostracrash.com e são gratuitas. É necessário ter mais de 16 anos para participar. Já a programação do cinema possui classificação indicativa de 18 anos.
A 10ª edição da CRASH é uma realização da MMarte Produções e conta com o patrocínio do Governo de Goiás, por meio da Lei Goyazes e da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte (Seduce). Tem apoio do Cine Cultura, do Museu da Imagem e do Som de Goiás, da Escola Goiana de Desenho Animado, da Hocus Pocus, da Mandrake Comic Shop, do Sebo Clepsidra, da Fantaspoa Produções, do restaurante Dona Fiinha e do coletivo Obsoleto.
Programação completa: https://www.mostratrash.com/
CRASH – Mostra Internacional de Cinema Fantástico
Cine Cultura – Centro Cultural Marietta Telles Machado, Praça Cívica, no 2.
Goiânia – GO
12 a 16 de dezembro de 2018
ENTRADA FRANCA