Em cartaz a partir de hoje no CCBB-Centro Cultural do Banco do Brasil, a mostra ‘Cícero Dias – Um percurso poético’ traz 125 obras do pintor pernambucano que foi um dos mais importantes artistas brasileiros do século XX.
Peças oriundas do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (MASP), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), Museu Oscar Niemeyer (MON), Museu de Arte Brasileira da FAAP, Coleção Roberto Marinho, Museu do Estado de Pernambuco (MEPE), Fundação Gilberto Freyre, além de colecionadores particulares como Sérgio Fadel (RJ), Gilberto Chateaubriand (RJ), Waldir Simões de Assis (PR) entre outros.
Com curadoria de Denise Mattar e curadoria honorária da filha de Cícero, Sylvia Dias, a exposição traz em cores e poesia a trajetória do ‘selvagem esplendidamente civilizado’ como definiu o crítico francês André Salmon.
Dividida em três núcleos, ‘Brasil’, ‘Europa’ e ‘Monsieur Dias – Uma vida em Paris’, a mostra traz obras em aquarela produzidas no início de sua carreira, quando ainda era um jovem rapaz criado no Recife e vivia como um moço abastado nascido no engenho, também óleo sob tela, fac-símiles de cartas, textos e fotos de Manuel Bandeira, Gilberto Freyre, Murilo Mendes, José Lins do Rego, Mário Pedrosa, Pierre Restany, Paul Éluard, Roland Penrose, Pablo Picasso, Alexander Calder, entre outros.
A mostra é aberta pelo subnúcleo “Entre Sonhos e Desejos”, que traz um conjunto de 30 aquarelas produzidas entre 1925 e 1933, trabalhos que emocionam pela peculiaridade, sendo ao mesmo tempo líricos, agressivos, caóticos, sensuais e poéticos.
O núcleo é encerrado com a sequência “E o Mundo começava no Recife…”, que traz um conjunto de obras que fizeram um contraponto às lembranças rurais, mostrando as recordações urbanas do jovem Cícero no Recife. As casas coloniais debruçadas para o mar, os sobrados e seus interiores, os jardins com casais românticos, e as alcovas – com amores mais carnais.
“Entre a Guerra e o Amor”, reproduções de fotos, cartas, documentos, além de desenhos e aquarelas, de pequeno formato, realizadas por ele durante a II Guerra Mundial, em condições precárias.
Cícero Dias saiu do Brasil por conta da ditadura militar e chegou à Paris em 1937 e logo a forte presença artística dos surrealistas o inspirou. Poucos meses após a sua chegada, o artista apresentou uma exposição na Galerie Jeanne Castel, com obras trazidas do Brasil e outras já pintadas em Paris. Nesta época ele assou a integrar o Grupo Espace e a expor na importante galeria Denise René.
Perseguido em Paris, Dias seguiu para a capital portuguesa, onde sua obra sofreu uma mudança radical. Seu trabalho tornou-se eufórico e selvagem, exorcizando os fantasmas da guerra ainda não terminada. Este momento de sua produção define o segmento ‘Lisboa – Novos Ares’.
Ainda na Europa, ele deu início à sua despedida da figuração, em um trabalho que ficou conhecido como fase vegetal, retratada na exposição pelo subnúcleo “A Caminho da Abstração”. O artista criou múltiplas imagens superpostas a partir da vegetação, incorporando novos elementos plásticos e borrando fronteiras entre figuração e abstração.
Dias passou então a trabalhar com formas curvas e sensíveis, abrindo o caminho para a abstração plena, pintando telas rigorosamente geométricas e tornando-se o primeiro artista brasileiro a trabalhar com essa vertente. Sua produção deste período está reunida no segmento “Geometria Sensível”.
Em 1948, Cícero veio para o Brasil para executar uma série de pinturas murais abstratas, consideradas as primeiras da América Latina. O trabalho foi realizado na sede da Secretaria de Finanças do Estado de Pernambuco, em Recife, e mais uma vez, causou intensa polêmica.
A exposição é encerrada por um conjunto de sete obras produzidas pelo artista na década de 1960, quando retornou à figuração, trazendo de volta um imaginário lírico. Os trabalhos de “Nostalgia” remetem às lembranças de sua juventude no Recife. As telas Seresta e Nostalgia compõem este segmento e são algumas das mais importantes desse período.
O visitante poderá ainda ver obras nunca antes expostas como os realizados para importantes espetáculos, tal como o balé Maracatu de Chico Rei, de Francisco Mignone, em 1933; e o balé Jurupari, de Villa-Lobos, em 1934.
Serviço:
Exposição Cícero Dias – Um percurso poético
De 08/02 a 03/04 (de quarta a domingo) das 9h às 21h
Local: CCBB-Centro Cultural do Banco do Brasil (SCES Trecho 2, Lote 22)
Entrada franca
Classificação livre.