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A filósofa Marcia Tiburi, a jornalista Tereza Cruvinel e a triz Elisa Lucinda

Maior evento literário da região central do Brasil recebe mais de 200 escritores. A filósofa Marcia Tiburi, a jornalista Tereza Cruvinel e a triz Elisa Lucinda estão entre os participantes. Os shows ficarão por conta Chico César, Zizi Possi e Arnaldo Antunes.

As questões mais latentes do debate contemporâneo estarão contempladas na terceira edição da BIENAL BRASIL DO LIVRO E DA LEITURA, que acontece de 21 a 30 de outubro, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. O deslocamento de populações e a tragédia dos refugiados, intolerância, afetividade, gênero, meio ambiente, vida urbana, as tecnologias digitais e vários outros assuntos serão tema de mesas de debate, seminários, palestras, lançamentos de livros, que contarão com a participação de cerca de 120 escritores nacionais e estrangeiros, além de vários autores de Brasília, especialmente selecionados.

Como tem sido uma marca do evento, a III BIENAL BRASIL DO LIVRO E DA LEITURA terá dois homenageados. De um lado, o pensador português Boaventura de Sousa Santos, uma referência mundial no campo da ciência social, impulsionador e um dos maiores responsáveis pela criação do Fórum Social Mundial. E do Brasil, a grande poetisa Adélia Prado e sua escrita feminina, pungente, que evoca o transcendente da vida cotidiana. Ambos estarão em Brasília e participarão de encontros com a plateia. Adélia Prado será homenageada no dia de abertura do evento, a partir das 20h, quando fará palestra. Boaventura de Sousa Santos receberá homenagem no dia 27, a partir das 20h, e também fará na BIENAL o lançamento do livro As Bifurcações da Ordem: revolução, cidade, campo e indignação, terceiro volume da Coleção Sociologia Crítica do Direito.

Com direção geral de Nilson Rodrigues e produção executiva de Eduardo Cabral, a BIENAL promoverá atividades com cerca de 120 escritores convidados. Serão sessões de autógrafos e lançamentos de livros, contação de histórias, apresentações teatrais (com participação especial do ator Jonas Bloch com O delírio do verbo), além de shows musicais de artistas como Arnaldo Antunes, Chico César e Zizi Possi e nomes de destaque da música do Distrito Federal.

UM TIME DE CRAQUES

Durante dez dias, estarão reunidos em Brasília aclamados autores e pensadores de várias nacionalidades, discutindo temas palpitantes da realidade mundial. Dentre os autores estrangeiros, além do homenageado Boaventura de Souza Santos, virão nomes de destaque como a cubana Teresa Cárdenas, os mexicanos Guadalupe Nettel e Jorge Volpi, o inglês Theodore Dalrymple (pseudônimo do psiquiatra e escritor Anthony Daniels), o norte-americano Glenn Greenwald (que junto com Edward Snowden, revelou ao mundo a existência de um programa de vigilância global dos Estados Unidos), o argentino Martin Caparrós, os franceses Dominique Cardon, Jean-Yves Loude e Léonora Miano, a australiana Kathryn Bonella, a portuguesa Raquel Varela, o equatoriano Alberto Acosta, dentre outros. Na curadoria, os escritores Hamilton Pereira, José Rezende e Nicolas Behr, a tradutora Lídia Luther e o diretor da BIENAL, Nilson Rodrigues.

Algumas das mais inovadoras, singulares e avançadas cabeças do universo literário no Brasil também estarão em Brasília para participar da III BIENAL BRASIL DO LIVRO E DA LEITURA. Para começar, a grande homenagem a Adélia Prado, uma das maiores poetisas da literatura brasileira em todos os tempos. E integrando mesas de debate, fazendo palestras ou lançando livros estarão autores como Marcelino Freire, Fernando Bonassi, Mário Prata, João Gilberto Noll, Daniela Arbex, Marcia Tiburi, Maria Valéria Rezende, Fernando Morais, Amara Moira, Conceição Evaristo e outros 34 escritores nacionais. Somam-se a eles alguns dos mais celebrados autores do Distrito Federal.

O evento que coloca a capital brasileira no mapa do ambiente literário internacional irá ocupar, em 2016, as instalações do Estádio Mané Garrincha, com acesso público e gratuito. Cerca de 170 expositores, desde pequenas livrarias até representantes das principais editoras do país, prometem oferecer um vasto panorama de títulos nacionais e estrangeiros, possibilitando a aquisição de livros a preços mais módicos do que os praticados no mercado. E espetáculos nas áreas de música, teatro, dança e contação de histórias oferecerão atividades para visitantes de todas as idades. Dentre eles, apresentações de peça protagonizada por Jonas Bloch – ‘O delírio do verbo’, inspirado em poemas de Manoel de Barros, e um espetáculo especialmente preparado para a BIENAL pelo poeta, cantor, compositor Arnaldo Antunes.

A BIENAL é uma realização do ITS – Instituto Terceiro Setor e conta com apoio da Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Distrito Federal, do Governo Federal e de empresas da iniciativa privada.

PEQUENO RESTROSPECTO

A BIENAL aconteceu em 2012 e 2014, com entrada gratuita, em áreas cobertas e climatizadas especialmente montadas na Esplanada dos Ministérios. Passaram pelos corredores, auditórios e estandes do evento, em cada ano, mais de 300.000 (trezentos mil) visitantes e cerca de 70.000 (setenta mil) estudantes da rede pública de ensino. As vendas, somando as duas edições, superaram R$ 16.000.000,00 (dezesseis milhões de reais), a partir da comercialização de mais de 785.000 (setecentos e oitenta e cinco mil) livros.

Em sua primeira edição, a iniciativa homenageou o primeiro autor africano a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, o nigeriano Wole Soyinka, e o brasileiro Ziraldo. Já em 2014, foram homenageados o uruguaio Eduardo Galeano e o mestre pernambucano Ariano Suassuna. Além destes, mais de 300 (trezentos) escritores, brasileiros e estrangeiros, representantes de mais de 60 países, participaram das duas edições, em debates, seminários e sessões de autógrafos. Foram nomes como o poeta argentino Juan Gelman, a escritora norte-americana Alice Walker, o moçambicano Mia Couto, o chileno Antonio Skármeta, o cubano Leonardo Padura, o paquistanês Tariq Ali, dentre vários outros grandes autores.

HOMENAGEADOS

BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

Para grande parte da intelectualidade, o mais importante pensador europeu da área de ciências sociais, Boaventura de Sousa Santos nasceu em 1940, em Coimbra, Portugal. Pensador de múltiplas identidades, professor universitário, cientista social, jurista, escritor, filósofo da ciência, ativista e poeta, Boaventura de Sousa Santos é autor de Direito dos Oprimidos, sua tese de mestrado, que se transformou num marco fundamental na sociologia do direito. Um dos principais impulsionadores do Fórum Social Mundial, defende a ideia de que os movimentos sociais e cívicos fortes são essenciais ao controle democrático da sociedade e ao estabelecimento de formas de democracia participativa.

O pensador tem íntima ligação com o Brasil. Viveu no País nos anos 1970, quando recolheu material para sua tese de mestrado em favelas do Rio de Janeiro, e constantemente visita Porto Alegre, para estudar o orçamento participativo. Um dos fundadores da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Boaventura fez investigações também em Cabo Verde, Macau, Moçambique, África do Sul, Colômbia, Bolívia, Equador e Índia.

Boaventura de Sousa Santos é professor catedrático jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e tem trabalhos publicados sobre globalização, sociologia do direito, epistemologia, democracia e direitos humanos. Sua obra já foi traduzida para o espanhol, italiano, inglês, francês, alemão e chinês. Doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale, atualmente pesquisa sobre a reinvenção da emancipação social. Para ele, há uma enorme dissociação entre a experiência e a expectativa. Cada vez há experiências mais avançadas nas áreas de democracia participativa, produção alternativa e multiculturalismo, mas, segundo o cientista, os indivíduos desistiram de associar experiência a mudança social. Seus escritos dedicam-se ao desenvolvimento de uma Sociologia das Emergências, na qual se procura valorizar as variadas gamas de experiências humanas, contrapondo-se a uma “Sociologia das Ausências“, responsável pelo desperdício da experiência – como exposto em seus livros Renovar a Teoria Crítica e Reinventar a Emancipação Social.

Dirige atualmente o projeto de investigação ALICE – Espelhos estranhos, lições imprevistas: definindo para a Europa um novo modo de partilhar as experiências do mundo, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC), um dos mais prestigiados e competitivos financiamentos internacionais para a investigação científica de excelência em espaço europeu. O projeto ALICE visa repensar e renovar o conhecimento científico-social à luz das Epistemologias do Sul, propostas por Boaventura, com o objetivo de desenvolver novos paradigmas teóricos e políticos de transformação social. Uma das suas preocupações é aproximar a Ciência do senso comum, visando ampliar o acesso ao conhecimento.

Também é poeta, autor do livro Escrita INKZ: Anti-Manifesto para uma Arte Incapaz.

LANÇAMENTO – Durante a III BIENAL, Boaventura de Sousa Santos lançará o livro As Bifurcações da Ordem: revolução, cidade, campo e indignação (Cortez Editora). Trata-se do terceiro volume da Coleção Sociologia Crítica do Direito, em que o autor publica os estudos que realizou nas últimas três décadas. No novo volume, Boaventura analisa, em contextos temporais e espaciais distintos, os diversos contornos de como a ordem jurídica, o direito e os tribunais refletem os processos de transformação social e simultaneamente os influenciam.

No livro, o autor apresenta as condições em que o direito pode ser mobilizado em benefício das classes sociais mais vulneráveis, ao mesmo tempo em que mostra que são muito exigentes as condições para que se consiga diminuir a injustiça social, a desigualdade e a discriminação, levando o direito a permanecer nas mãos dos interesses das classes dominantes e das forças conservadoras. Boaventura, entretanto, revela que a tensão entre os dois lados permanece.

Aproveitando a vinda do grande pensador ao Brasil, a editora Boitempo fará, uma semana antes do início da III BIENAL BRASIL DO LIVRO E DA LEITURA, o lançamento de outro título do autor, A difícil democracia – Reinventar as esquerdas.

coluna-10_adelia_pradoADÉLIA PRADO
Poetisa, professora, filósofa, contista, Adélia Prado é uma unanimidade nacional. Com sua poesia que fala do detalhe ínfimo, dos pequenos gestos, dos mínimos (e dos grandes) desejos inconfessos, dos sentimentos repetitivos, de cotidianos simples, ela dá voz a uma metafísica do universo doméstico. Costuma dizer que o cotidiano é a própria condição da literatura. Adélia é intelectual, mãe, dona-de-casa, esposa de José Assunção de Freitas (funcionário do Banco do Brasil) e moradora, desde o nascimento, da pequena cidade de Divinópolis, no interior de Minas Gerais. É de lá que a poeta extrai a seiva de sua poesia, num voo solitário, que arranca do anonimato personagens do interior do país e dá voz a sentimentos íntimos femininos, expressos num tom inovador, que valoriza a mulher e a fé católica. Deus está presente em toda sua escrita: “Descobri que a experiência poética é sempre religiosa, quer nasça do impacto da leitura de um texto sagrado, de um olhar amoroso sobre você ou de observar formigas trabalhando”, afirma.

Nascida em 1935, Adélia Prado nunca quis abandonar sua rotina de moradora da pequena Divinópolis. Na cidade, ela exerceu o magistério durante 24 anos, até que o trabalho como escritora tornou-se sua atividade principal.

Adélia Prado escreveu seus primeiros versos em 1950, depois da morte da mãe. Mas até sua escrita se tornar conhecida muita vida correu: Adélia se casou, teve cinco filhos e ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis. Só em 1973, ela decidiu enviar seus poemas para o poeta e crítico literário Affonso Romano de Sant’Anna, que os remeteu à apreciação de Carlos Drummond de Andrade. Depois da recomendação de publicação da poesia de Adélia feita pelo poeta mineiro à editora Imago, nascia, em 1975,Bagagem, primeiro livro da poetisa. Pouco tempo depois, em 1978, viria O coração disparado, agraciado com o Prêmio Jabuti. Em 1976, a estreia na prosa com Soltem os cachorros. E Adélia não parou mais.

Hoje, tem obras lançadas em poesia, prosa, antologias, adaptações para o balé, para o teatro, traduzidas para o inglês, espanhol, italiano. Seu trabalho tornou-se grande sucesso teatral com o monólogo Dona Doida, interpretado por Fernanda Montenegro, em 1987. Também ganhou a cena com Dona da Casa, a adaptação que José Rubens Siqueira fez, em 2000, para Manuscritos de Felipa, lançado em 1999.

SEMINÁRIOS E MESAS DE DEBATE
Os seminários e debates da BIENAL BRASIL DO LIVRO E DA LEITURA costumam ser brilhantes. A curadoria procura contemplar assuntos que estão na agenda de todas as grandes discussões mundiais. Em 2016, não será diferente. As atividades irão propor a reflexão sobre temas como deslocamentos de populações, conflitos armados, intolerância, afeto, vida urbana, mídias tradicionais e mundo virtual, dentre vários outros.

Estão na programação quatro grandes seminários. Sob o título de ‘Deslocamentos: Geopolítica, Cultura, Etnia, Ecologia e Religião’ quatro mesas vão debater: A destruição do Estado de bem-estar social na Europa, o aumento da desigualdade no mundo e o elemento China; Fronteiras políticas, econômicas e desigualdades no mundo globalizado; Cultura, etnia e religião: intolerância e conflitos; e Identidade, território e afirmação das nações indígenas, reunindo nomes como o argentino Martin Caparrós, a portuguesa Raquel Varela e os brasileiros Bernardo Kucinski, Leonardo Sakamoto e Ailton Krenak.

O seminário ‘Novas Tecnologias e os efeitos na cultura, economia e vida cotidiana’ vai propor a reflexão sobreInformação, ética e comportamento nas redes sociais; O declínio das mídias tradicionais e novos espaços de informação e comunicação; Vozes dissonantes: liberdade e autoritarismo na internet; O mundo virtual e seu significado na história da humanidade; e Estados, democracia e controle da informação. Para as cinco mesas, estão confirmados nomes como o norte-americano Glenn Greenwald, o francês Dominique Cardon, o inglês Theodore Dalrymple e os brasileiros Paulo Henrique Amorim e Tico Santa Cruz.

Debatendo sobre ‘Amor, afetividade e individualidade nos tempos modernos’ estarão grandes nomes do elenco feminino da III BIENAL: a cubana Teresa Cárdenas, a mexicana Guadalupe Nettel, as brasileiras Elisa Lucinda e Viviane Mosé. Elas vão integrar as mesas O amor em tempos de intolerância e individualismo e Tudo ao mesmo tempo agora: a vida afetiva nas redes sociais.

E o quarto seminário dedica-se a estudar ‘Vida urbana – novos espaços, novos caminhos’. Participando das mesas A sociedade do descarte e a tragédia urbana; Grandes metrópoles: exaustão humana e degradação do meio ambiente; Liberdade, solidão e indiferença nas grandes cidades; e A reinvenção das periferias: a percepção dos direitos e a luta pela cidadania estarão o holandês Johan Van Lengen (criador do conceito da Bioarquitetura) e os brasileiro Marcelino Freire, Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro, dentre vários outros. Os seminários têm entrada franca, sujeita à lotação das salas.

PROGRAMAÇÃO COMPLETA

http://www.bienalbrasildolivro.com.br/programacao/
III Bienal Brasil do Livro e da Leitura
De 21 a 30 de outubro de 2016
Estádio Mané Garrincha / Brasília / DF

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