O Centro Cultural Banco do Brasil Brasília abriu as portas desde o dia 22 de julho para uma exposição inédita de Hélio Oiticica, artista brasileiro que marcou a história da arte mundial com seu trabalho potente e performático, presente em instalações, pinturas, esculturas e manifestações que influenciaram artistas plásticos, músicos e pensadores.

Delirium Ambulatorium tem curadoria do pesquisador Moacir dos Anjos e demonstra a complexidade do pensamento do artista e a sua afiada percepção da identidade brasileira. O patrocínio é do BB Asset Management e a produção é da Tuîa Arte Produção.

A mostra abrange o trabalho de Oiticica desde os anos 1950, o período radicado em Nova York até suas últimas produções. São projetos, escritos, objetos, pinturas e instalações, como BilateraisRelevos espaciaisNúcleosPenetráveis; Bólides e Capas-Parangolés (réplicas para ser experienciadas pelos visitantes). Ainda serão exibidos filmes, como Agrippina é Roma-Manhattan e Apocalipopótese, e registro da performance Mitos Vadios. A ocupação de Oiticica pelo CCBB conta ainda com o Magic Square #3, um labirinto colorido ao ar livre, que propõe uma vivência integrada à natureza e à urbanidade.

Delirium Ambulatorium (1978), obra-conceito de Oiticica que dá nome à exposição, é um misto de proposição e performance, um “estado de invenção”, que coloca no centro de suas atenções a ideia de deambular na cidade como estopim crucial da invenção artística. A exposição apresenta o artista por meio de um dos últimos movimentos de sua trajetória.

“Talvez esta seja a expressão mais radical da tentativa do artista de quebrar as distinções entre ateliê e rua, e, principalmente, entre artista e público, acionando o segundo como participante na atividade criadora e instaurando uma forma de expressão genuinamente disseminada e coletiva”, afirma o curador, Moacir dos Anjos.

Instalada nas galerias 1, 2 e 3 e na área externa do CCBB Brasília, a mostra extrapola as barreiras dos espaços expositivos convencionais e convida os visitantes a vivenciar as obras de Oiticica com todos os seus sentidos e, assim, honrar o artista que uma vez disse: “o museu é o mundo”.      

AS OBRAS: ATIVAÇÃO E LIBERDADE

No térreo da galeria 1, estão expostas produções de Oiticica inseridas no contexto do neoconcretismo, como Bilaterais (placas de madeira recortadas em formas irregulares, pintadas de uma única cor e suspensas no espaço); os Relevos Espaciais (semelhante aos anteriores, mas com volume); os Núcleos (placas pintadas, quadradas ou retangulares, penduradas do teto de modo a criar espaços de cor); os Penetráveis (cabines feitas de planos de madeira pintada que podem ser adentradas); e os Bólides (objetos feitos de materiais variados que servem de depositário para outros tantos, destacando a fisicalidade da cor no mundo).

No mesmo espaço, é possível conferir Metaesquemas e Monocromáticos. Os Metaesquemas partem de formas geométricas (como as primeiras obras de Oiticica), constituídas agora por cores mais sólidas, organizadas de maneira cada vez menos homogênea na superfície. Quase como um desdobramento, os Monocromáticos sobrepõem forma e suporte, possuem apenas uma cor que ocupa toda a superfície, evidenciando o formato retangular do papel como uma das formas geométricas da pintura. Esses são os últimos trabalhos dele a se relacionarem com a parede.

Tanto no térreo quanto no subsolo da galeria 1 são tratados os famosos Parangolés, invenção do artista, fruto de suas andanças pela capital carioca e pelo Morro da Mangueira. São “capas protesto”, como eram chamadas por Oiticica, carregadas de adornos e frases-lema, como “da adversidade vivemos”, “incorporo a revolta” e “estamos famintos”.

Esse ambiente também apresenta a experiência coletiva de criação exibida no evento Apocalipopótese (1968) – neologismo inventado pelo artista Rogério Duarte combinando as palavras apocalipse, hipótese e apoteose. No cerne, está o conceito de Suprassensorial, elaborado por Oiticica em 1967, conceituação que propõe “exercícios criativos” para capacidades sensoriais. Na parte que lhe cabia na programação do evento, Hélio Oiticica convidou outros artistas e apresentou um conjunto de Parangolés, usados por ele mesmo, Frederico Morais e um grupo de sambistas da Mangueira e de outras escolas de samba, como Portela, Vila Isabel e Salgueiro.

Hélio Oiticica com Manhattan Brutalista, no canteiro de obras do metrô da Avenida Presidente Vargas, Rio de Janeiro, 1978 Imagem: Andreas Valentin

A galeria 2 é dedicada aos acontecimentos poético-urbanos criados pelo artista, como o trabalho Devolver a Terra à Terra (1979). Sua primeira versão foi exposta no Kleemania, evento concebido como homenagem ao centenário de nascimento do Paul Klee (1879-1940), uma das maiores influências de Oiticica. Nessa ação, o brasileiro coletou terra escura de outra parte da cidade – Jacarepaguá (RJ) – e a transportou até o aterro de lixo do bairro do Caju, depositando-a ali.  

O espaço reúne ainda Fragmentos-Tokens, pedaços materiais da cidade coletados nas “andanças de vadiagem”, principalmente no final da década de 1970, quando Oiticica retorna ao Rio de Janeiro após sete anos em Nova York. Entre as obras está Manhattan Brutalista (1978) — pedaço de asfalto recolhido entre os escombros das obras do metrô na Avenida Presidente Vargas, por onde desfilam as escolas de samba nos carnavais, e que lembra desenho cartográfico da região nova-iorquina. A obra compõe, junto com outros pedaços de calçada da mesma avenida, um mosaico de pedras e cimento, um “jardim transformável”, nomeado de Av. Presidente Vargas – Kyoto/Gaudí (1978), em homenagem a lugares pelos quais tinha especial interesse: os jardins da cidade japonesa e as construções feitas pelo arquiteto catalão Antoni Gaudí.

“Hélio surge demencial, imantado pela reverberação de uma aparência de bacante, dançando, girando, uma mênade enlouquecida (…) gargalhava das obras de arte expostas ao redor pelos outros artistas (…) era a chalaça com a pretensa seriedade dos artistas comprometidos com o mercado de arte” — relembra Waly Salomão

A galeria 2 também faz alusão a um episódio particular de Oiticica. Em 1978, ele participou de evento organizado pelo artista Ivald Granato em São Paulo, intitulado Mitos Vadios, que tinha intenção de protestar coletivamente contra a I Bienal Latino-americana de São Paulo – organizada sob o título Mitos e Magia, dada a suposta “exotificação” que a mostra fazia da região.

Na galeria 3 é possível percorrer uma área criada por um conjunto complexo de placas de madeira em formato de retângulos e quadrados pintados em diferentes tons de amarelo. O Grande Núcleo (1960) tem papel relevante no caminho construído por Oiticica no que tange o espaço tridimensional. A instalação evidencia a presença do corpo do espectador como elemento de interesse da produção do artista.

Ao longo de toda mostra, também serão promovidas as seguintes atividades:

  • Fábrica de relevos espaciais: ação aberta e gratuita, para adultos e crianças, de criação de objetos como pequenas obras, estruturas tridimensionais e móbiles. Será ministrada por artistas e mediadores, inspirada nos Relevos Espaciais de Oiticica. 
  • Oficina de parangolés: atividade aberta e gratuita para a fabricação de parangolés ministrada por artistas e mediadores.
  • Tour virtual: por meio do uso de imagens 360º e um ambiente virtual interativo, o público poderá visitar a exposição, entrando em contato com as obras, informações sobre a vida e trabalhos de Oiticica, conhecendo o projeto expográfico.

HÉLIO OITICICA 

Hélio Oiticica (1937-1980) começou sua carreira como artista ainda jovem, aos 17 anos. Considerado a inspiração máxima para o movimento da Tropicália nos anos 60, destacou-se pela produção de caráter experimental e inovador que pressupõe a participação do público. O artista criou, ao longo de uma vida breve e fecunda, uma série articulada – um Programa, como costumava dizer – com construções que desafiam noções convencionadas sobre o que é arte. Esse percurso foi marcado por sofisticadas elaborações de conceitos que acompanhavam sua produção de trabalhos.

Serviço:

Hélio Oiticica – Delirium Ambulatorium

Local: Centro Cultural Banco do Brasil Brasília

Endereço: SCES Trecho 02 Lote 22 – Edif. Presidente Tancredo Neves – Setor de Clubes Especial Sul – Brasília – DF

Período | 21 de julho a 15 de outubro de 2023, das 09h às 21h

Local | Galerias 1, 2, e 3 e área externa

Verifique a classificação indicativa de acordo com a obra

Ingressos | em www.bb.com.br/cultura e na bilheteria do CCBB Brasília

Entrada Gratuita

Informações: (61) 3108-7600

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