Foto: Aldeia russa, 1929
óleo sobre tela
73 × 92 cm
Coleção particular © Chagall, Marc/AUTVIS, Brasil, 2022

O Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB) abre as portas em2 de julho para uma exposição apaixonante – Marc Chagall: sonho de amor. Serão mais de 180 obras desse artista que marcou o século 20 pelo uso revolucionário das formas e dascores, pela criação de um universo lírico, poético e fantástico em suas pinturas e em seusescritos, e por sua trajetória única, pautada pelo amor que devotava à vida e às artes.

A mostra, considerada sucesso pela crítica brasileira em sua passagem pelo Rio (mais de 115mil visitantes), ficará em cartaz em Brasília até 18 de setembro e depois segue para Belo Horizonte (12 de outubro de 2022 a 9 de janeiro de 2023) e São Paulo (1 de fevereiro a 10 de abril de 2023).


“Só o amor me interessa, e eu estou apenas em contato com coisas que giram em torno doamor” – é esta frase célebre de Chagall que de certa forma orienta a exposição. Chagall enfatizava repetidamente que sua vida e arte eram suas formas de expressar amor. Nascido em 7 de julho de 1887 no bairro judaico da cidade de Vitebsk, na antiga Rússia, Marc Chagall viveu uma vida quase centenária, chegando aos quase 98 anos de idade. Faleceu na França,em 1985, após atravessar a Revolução Russa e a 1a e 2a Guerras Mundiais, assistir à criação e consolidação do Estado de Israel, e ser reconhecido como um dos nomes mais importantes da arte moderna, sobretudo pela criação de uma linguagem artística única.

© Chagall, Marc/AUTVIS, Brasil, 2022
Duas cabeças, 1966
guache, pastel e nanquim sobre papel
49,8 × 32,2 cm
Coleção particular


No pavilhão de vidro do CCBB, o “Sonho de amor” é anunciado pela instalação contemporânea Air Fountain, gentilmente cedida pelo artista norte-americano Daniel Wurtzel. Nas galerias 1 e 2, o percurso apresenta uma seleção de obras produzidas por Chagall
ao longo da carreira, de onde emergem os temas: origens e tradições russas; o amor e o exílio na representação do mundo sagrado; o lirismo e a poesia, reencontrados em seu retorno à França, e o amor transcendente, uma ode ao sentimento de estar apaixonado, presente na figura dos enamorados que flutuam nas telas ou estão imersos entre ramos de flores.

Segundo a curadora da exposição, Lola Durán Úcar, couberam na seleção obras “que mostram diferentes técnicas e suportes que Chagall utilizou com grande virtuosismo: óleos, têmperas e guaches, litografias e águas-fortes branco e preto e coloridas à mão”.


Entre os trabalhos de Chagall exibidos no Brasil, que contemplam o período de 1922 a 1981, pode-se destacar o raríssimo guache O avarento que perdeu seu tesouro (L’avare qui a perdu son trésor), de 1927, produção que dá início à série gráfica das Fábulas de La Fontaine (Fables, Jean de La Fontaine), encomendada por Ambroise Vollard no final dos anos 1920 e impressa
somente em 1952.


Também fazem parte da mostra as gravuras coloridas à mão da série Bíblia, animadas por um sentimento de reconexão do artista com suas origens, com sua essência, com suas experiências na comunidade judaica de Vitebsk. Além disso, a exposição conta com litografias publicadas em 1954 na revista francesa Derrière Le Miroir – Edições 66, 67 e 68 – Marc Chagall: Paris, produzidas como uma homenagem do artista à cidade que tão bem o acolheu, no auge de seu domínio técnico da litografia. A série é uma declaração do seu amor por Paris.


Em cada seção da exposição encontram-se obras emblemáticas, entre as quais podemos citar: Os amantes com asno azul (Les amoureux à l’âne bleu), de ca. 1955, O galo violeta (Le coq violet), de 1966-1972, Os reflexos verdes(Le reflets verts), de 1964, Duas cabeças(Deux têtes), de 1966, Buquê de flores sobre fundo vermelho (Bouquet de fleurs sur fond rouge), de1970, Os noivos com trenó e galo vermelho (Les mariés au traîneau et au coq rouge), de 1957, e Primavera (Le Printemps), de 1938-1939, estas duas últimas provenientes respectivamente dos acervos da Casa Museu Ema Klabin e do Museu de Arte Contemporânea da Universidadede São Paulo (MAC USP), especialmente cedidas para a exposição. Segundo a curadora, “as obras emprestadas pelas instituições brasileiras são de grande importância no discurso expositivo”.


Módulos da exposição


A exposição que chega ao Brasil apresenta quatro seções, que tratam de diferentes temas da obra do pintor russo. A primeira parte intitula-se Origens e tradições russas. Nessa seção está presente a marcante obra Aldeia Russa (Russian village), de 1929. Também faz parte dessa primeira seção da mostra um dos mais importantes projetos de Chagall, no qual sua ideia de tradição está intimamente ligada à vida campesina da infância e adolescência no vilarejo de Vitebsk, na companhia de animais e cercado pela natureza. Destaca-se a série gráfica completa das Fábulas – inspirada na obra de La Fontaine, escritor francês do século 17 –, na qual dialoga com a cultura popular e penetra no comportamento humano, metaforizado nos textos do escritor francês.

Os trabalhos relacionados aos textos sagrados e ao universo espiritual de Chagall compõem o segundo bloco da exposição, intitulado Mundo Sagrado, que se subdivide em “Bíblia” e “A história do Êxodo”. Nele se destacam as pinturas No caminho, o asno vermelho (En route, l’âne rouge), de 1978, e Davi e Golias (David et Goliath), de 1981, além de gravuras coloridas à mão, que representam alguns dos capítulos mais importantes do Velho Testamento, como Moisés e Arão diante do Faraó (Moïse et Aaron devant Pharaon), Travessia do Mar Vermelho (Passage de la Mer Rouge) e Morte de Moisés (Mort de Moïse), estas com impressão realizada em Paris em 1956.


O terceiro segmento da exposição, intitulado Um poeta com asas de pintor, reúne trabalhos
ligados ao regresso de Chagall do exílio nos Estados Unidos.

Por fim, o quarto e último módulo da mostra é intitulado O amor desafia a força da gravidade, em que o sentimento de amor, a sensação de estar apaixonado, o enlace dos enamorados são os temas das pinturas, reforçando sempre o fato de o amor ter sido a força motriz do artista, frente aos inúmeros obstáculos da vida. Ao seu lado, a musa e primeira esposa, Bella Rosenfeld, com quem partilhava uma visão muito particular de perceber e habitar o mundo. Apesar de sua morte prematura, Bella continuou a inspirar trabalhos de Chagall.


Consta dessa parte da exposição uma seleção de obras em que Chagall trata do tema ao longo de sua vida: Buquê de rosas (Bouquet de roses), de 1930, Os amantes com buquê de flores (Les amoureux au bouquet de fleurs), de 1935-1938, Grande nu (Grand nu), de 1952, O buquê da Lua ou Os lírios brancos (Le bouquet de la lune ou Les arums blancs), de 1946, Os amantes com asno azul (Les amoureux à l’anê bleu), de ca. 1955.


O amor como força que move a vida e a arte, tal como Chagall expressou vividamente em sua obra, encerra a exposição com Os noivos com trenó e galo vermelho (Les Mariés au traîneau et au coq rouge), de 1957, O sonho (Le rêve), de 1980, Os noivos e o anjo (Les mariés et l’ange) e Casamento sob o dossel (Mariage sous le baldaquin), ambos de 1981.


Em Brasília a mostra também contará com trabalhos que não foram vistos em outros países. Apesar de a exposição fazer parte de uma itinerância que foi concebida na Itália, o projetobrasileiro inclui outros repertórios, como a série litográfica Chagall: Paris para a revista Derrière Le Miroir, e obras de 1946, como a belíssima O buquê da Lua ou Os lírios brancos (Le bouquet de la lune ou Les arums blancs), além do diálogo com obras provenientes de coleções brasileiras como as da Fundação José e Paulina Nemirovsky, em comodato com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, cedidas para a exposição: O violinista apaixonado (Le violoniste
amoureux), de ca. 1967, Cidade cinzenta (Village gris), de ca. 1964, Casa em Peskowatik (Maison à Peskowatik), de 1922, e Autorretrato com chapéu enfeitado (Autoportrait au chapeau garni), de 1928, integradas aos módulos da exposição.

Serviço:
Marc Chagall: sonho de amor
Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Quando: de 2/7 a 18/9/2022
Demais cidades:
● CCBB BH: 12/10/2022 a 9/1/2023
● CCBB SP: 1/2 a 10/4/2023
Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Endereço: SCES, Trecho 2 – Brasília/DF
Funcionamento: terça a domingo, das 9h às 20h30
Entrada gratuita
Retire seu ingresso no site bb.com.br/cultura
Tel: (61) 3108 7600
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