Embora a comunidade LGBTQ+ tenha conquistado importante vitória com a decisão do Supremo Tribunal Federal ao equiparar LGBTfobia ao crime de racismo, “simbólica e numericamente a nossa comunidade é alvo de pressões em razão das pautas morais e fundamentalistas encontrarem guarida no Palácio da Alvorada”, alerta Dayse Hansa, coordenadora geral do Festival.

Em razão disso, o Bocadim surge como um movimento de contraponto que se alinha ao modo contemporâneo de ativismo, “o qual promove ações, a partir da arte e suas intersecções, que despertem a empatia e o amor para a desconstrução de informações equivocadas que se desdobram em violações dos nossos direitos”, pontua a produtora.

Em dois dias de apresentações artísticas, com 12 atrações locais e de outras regiões do país, o BOCADIM abre os caminhos de sua edição 2019 com uma festa, dia 18 (sexta-feira), no Outro Calaf. Na noite, o trio de DJs REBU – D-Day, Loly e Rafa Ferrugem – dá início à agitação, que fechar com a apresentação impactante de Karla Testa, ambos de Brasília.

Foto: Paula Carruba

Foto: Paula Carruba

O ponto alto da balada será a apresentação do ‘NoPorn’, que desembarca em Brasília pela primeira vez. Auto-descrito como “um projeto de poesia eletrônica para dançar”, a performance do trio, Liana Padilha, Lucas Lauri e Lucas Freire, é palavra dita com tom político-romântico pra sussurrar na pista e dançar na cama.

“Vamos fazer um mix de músicas dos dois discos e apresentar duas, ‘Índia Vedete’ e ‘MulherPeixe’, do nosso próximo álbum”, antecipa Padilha.

No sábado (19), o BOCADIM se muda para o gramado da Funarte Brasília onde, no palco de nome Vange Leonel, em homenagem à ativista, passarão artistas do Rio Grande do Norte, São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais e Distrito Federal.

Natural de Ribeirão Preto (SP), a cantora e instrumentista GALI traz ao festival sua música influenciada pelo sertanejo de raiz, de Inezita Barroso, bem como da melancolia pop de Lana Del Rey. “Baião, xaxado e arrocha também estarão no repertório deste show inédito com a estreia de nosso novo formato, em trio”, aponta a cantora. Gali sobe ao palco acompanhada por Theo Charbel, na guitarra, e Érica Silva, no baixo.

Politizada e de mente brilhante, para versos e rimas cheios de verdade sobre a dura realidade vivida pela mulher trans periférica, somada a uma voz poderosa, a paulistana Danna Lisboa abala estruturas de posturas conservadoras.

Seu primeiro EP “Ideias”, produzido por Nelson D, é conceitual e traz estilos como R&B, Hip Hop, Rock, Ragga e música eletrônica. No palco, Danna surge acompanhada de Nelson D, nas pick-ups, Samuel Bueno, no baixo, Fernanda Aimê, na guitarra, e corpo de dançarinos.

A banda mineira Dolores 602 aporta no festival para apresentar sua pegada indie pop de sonoridade intensa, guitarras brilhantes, um baixo vintage, bateria setentista e uma voz aveludada. Formada por mulheres fortes e feministas, as integrantes levam a poesia a sério em composições de guerrilha poética sobre o dia-a-dia, com determinação para falar de amor com simplicidade.

Fecha a programação a Rainha da Sofrência Pop, Duda Beat. Com um diário recheado de desabafos ácidos, as letras de Duda dão voz a uma jovem mulher romântica que não consegue se adaptar à fluidez dos relacionamentos contemporâneos. Porém, engana-se quem pensa que o trabalho de Duda faz apologia à amargura – o lamento transformado em arte é impregnado de humor.

Natural do Recife e radicada no Rio de Janeiro, a cantora soma seu timbre forte aos ritmos eletrônicos em músicas que giram em torno do mesmo tema: o amor. Duda recebeu o prêmio de Revelação do Ano 2018 pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). Indicada na Categoria Revelação 2018 no prêmio WME Awards, Aposta do Ano no MTV MIAW 2019 e está indicada para a categoria Experimente no Prêmio Multishow 2019. “Sinto Muito” foi eleito o 8º melhor disco de 2019 pela lista da Revista Rolling Stone.

Engajamento

“Esta edição será ainda mais política e potente que as anteriores com mais atividades e propostas que dão sustentação aos fundamentos do projeto”, ressalta a produtora. O Brasil é o país que mais assassina pessoas LGBTQ+ e um dos países que mais se violenta e mata mulheres e “cabe a todos nós buscarmos alternativas criativas para mudar esse quadro lamentável”, sugere a ativista.

Reverenciar nomes de ativistas que lutam e lutaram pelas causas LGBTQ+ é também um dos propósitos do Bocadim. Com isso, esta 6ª Edição do Festival deu nome a seu palco principal de Vange Leonel, cantora, escritora e ativista lésbica falecida em 2014, vítima de câncer.

O ativismo político da 6ª Edição do BOCADIM ultrapassa os limites do DF por meio da produção e veiculação de Mini Docs, com depoimentos instigantes de Alexandre Ribondi, Caio Mota e Luana Morena. Outros ainda vêm por aí. Os vídeos têm argumento de Dayse Hansa, captação e edição de Tarcisio Boquady e produção de Rafaella Ferrugem. Confira no Canal do BOCADIM em bit.ly/BOCADIMnoYouTube

Programação:
16h-Abertura dos portões
16h-Queermada
18h-Gali
18h40-Natália Carreira
19h20-Biduh
20h-Batalha de Vogue
21h-Dolores 602
22h-Danna Lisboa
22h40-Haynna e os Verdes
23h30-Potyguara Bardo
0h30-Duda Beat

Serviço:
6º Festival BOCADIM 2019 – Liberdade – Resistência – Equidade – Oportunidade – Amor
Festa de abertura dia 18/10, a partir das 20h, no Outro Calaf, com: DJs REBU em B2B – D-Day, Loly e Rafa Ferrugem; DJ Karla Testa; e Noporn.
Ingressos: bit.ly/FestaBocadim
Festival Dia 19/10, a partir das 16h, no gramado da Funarte