Sob impecável pesquisa, direção de arte, fotografia e a essência brasileira, o longa metragem premiado em Cannes como a Palma de Ouro de Melhor Ator e Diretor faz juz a todo trabalho, dedicação e empenho depositados nele. 

Ambientado inicialmente em 1977, em meio à Ditadura, sob uma Recife quente e fervorosa no Carnaval, o filme mostra Wagner Moura (Armando), professor universitário com especialização em tecnologia com alguns projetos de grande relevância que em contramão ao progresso esbarra com figuras de autoridade onde abusos de poder, preconceito e xenofobia são escancarados. 

Palavras que foram esquecidas voltaram a fazer parte da nossa realidade nos últimos dez anos e ecoam. Anistia, homofobia e tantas outras fazem com que o filme siga atual em suas questões”esclarece Kleber

Filmado com lentes Panavision dos anos 70, o filme traz em sua estética um resgate da própria memória do diretor em sua infância, como as  idas ao Cine São Luiz, clássico cinema de rua que recentemente foi restaurado e que tem sua história contada no documentário ‘Retratos Fantasmas’, projeto anterior de Kleber.

Em O Agente Secreto é salientada a miscelância do povo brasileiro com suas características, sotaques e personagens tão distintos como o próprio elenco, que reúne várias gerações que não necessariamente de atores. Tânia Maria é uma delas, figura fundamental na trama como a matriarca Dona Sebastiana, que abriga ‘os refugiados’. (Ela está na lista das atrizes coadjuvantes que a Variety aposta para o Oscar 2026)

“Tânia é minha segunda mãe, a personagem foi escrita pra ela. O filme me evoca tantas memórias afetivas e a figura dela é de extrema importância”

A presença feminina protagonizada por Tânia Maria, Maria Fernanda Cândido, Alice Carvalho, Isabel Zuáa, Suzy Lopes, entre outras compõe o alicerce de sustentação da trama.

“Em Cannes alguém falou sobre o filme ser muito feminino e fica claro que o masculino é o vetor da brutalidade, mas existe o tempo inteiro na presença de Wagner, que está sempre em busca de uma mátria, essa rede feminina que o ampara nessa pátria tão brutal vetorizada pelo masculino”. Alice Carvalho

Alice Carvalho (Fátima), esposa de Wagner (Armando) preenche a tela em cena explosiva e contundente; coesa e condizente com a narrativa e foi aplaudida no Cine Brasília. 

Sobre a trilha sonora Kleber destaca: “Era muito importante que a sonoridade tivesse a identidade brasileira e do Recife. Tem uma música que descobri da Banda de Pifanos gravada em 1962, chamada ‘Briga do Cachorro com a Onça” que está em uma cena emblemática”.

LENDA URBANA

A Perna Cabeluda é uma lenda urbana de Recife, no Brasil, que surgiu na década de 1970, a partir de uma reportagem sobre uma casa mal-assombrada em Tiuma, São Lourenço da Mata. A história conta sobre uma perna decepada, coberta de pelos, que anda pelas ruas à noite, dando chutes e rasteiras em quem encontra pelo caminho. A lenda ganhou força durante a ditadura militar e é interpretada como uma manifestação social da violência e do medo que os moradores da cidade sentiam. 

“Foi uma invenção dos jornalistas policiais nos anos 70 no Recife como um código para as ações da polícia nas madrugadas”. Kleber

A campanha do filme já está em andamento desde maio e será distribuído pela Vitrine Filmes em grande escala para o maior número de salas de cinema do Brasil. O longa tem sido destacado nos maiores veículos de comunicação mundial e cotado como a grande aposta para o Oscar 2026 em diversas categorias. 

Tem estreia prevista para o dia 06 de novembro em todo o país e os cinéfilos aguardam ansiosos. Vale a espera e o ingresso!