A mostra ‘O Corpo é a Casa’, em cartaz no CCBB, do austríaco Erwin Wurm desperta o interesse dos amantes das artes conceitual e interativa e os questionamentos que ambas despertam.
A arte de Erwin Wurm desafia formas tradicionais encontradas em nosso cotidiano. Carros, casas e sofás ganham aspectos distorcidos e expandidos representados em esculturas, vídeos, instalações, performances e intervenções – para desafiar formas tradicionais presentes no dia a dia.
“Entendo que a matéria-prima de qualquer escultura é energia e a unidade de medida de energia, que é a caloria, é o mesmo elemento que irá alterar a forma, o volume e a densidade dos materiais. E estes irão explorar a ressignificação da nossa própria energia corpórea em obras de arte simbólicas, desafiando a noção de performance, escultura e arte”, comenta Marcello Dantas.
A exposição é composta por cerca de 40 obras e dentre os destaques estão a Casa gorda (2003), com dimensões gigantescas e quase 2 toneladas de peso.
O humor permeia o universo de Wurm, que também é repleto de crítica ostensiva à sociedade de consumo e à cultura contemporânea. Segundo o artista, o humor leva as pessoas a olhar para as coisas com mais cuidado. Wurm também coloca a interação do espectador como o ingrediente mais importante de sua arte.
“Por um período de tempo eu tentei encontrar a forma mais rápida de me expressar. E isso se reflete na minha crença na franqueza. É o mesmo tipo de franqueza que você encontra nos quadrinhos, elemento que eu frequentemente uso em meu trabalho”, resume Wurm. Enquanto muitos artistas se concentram em dificultar a banalidade, o austríaco está interessado em fazer da dificuldade algo leve e acessível.
Na série ‘O artista que engoliu o mundo’, haverá uma seleção de trabalhos que discute a presença do artista em sua obra; já na Esculturas de um minuto os visitantes têm a oportunidade de interagir e transformar-se em obras instantâneas. Dentro de casa e Comida são outras séries que fazem parte da exposição. Treze vídeos do artista também fazem parte da exposição e estarão distribuídos nos diversos espaços do CCBB.
Sobre a exposição
Ao percorrer o conceito de corpo e elementos domésticos e do cotidiano, o conjunto de cerca de 40 obras explora tanto noções arquitetônicas, para qual o artista olha a partir do ponto de vista escultórico, quanto “a natureza transformativa da escultura em suas muitas encarnações”, como aponta o curador.
Integra o conjunto as famosas séries de esculturas corpulentas como Fat House (2003), a inflada Ferrari brilhante vermelha Fat Convertible (2004) e peças da série The Artist Who Swallowed the World (2006).
Esse conjunto antropomórfico e obeso sugere algumas atribuições biológicas ao objeto artístico, como o ato de consumir, tornando-o capaz então de “preencher” o seu próprio interior.
Seguindo essa lógica, obras envolvendo comida também estão presentes como as roliças salsichas que mimetizam atividades humanas da série Abstract Sculptures (Sitting Big, de 2014 e Big Kiss, de 2015), a instalação de 37 pepinos de acrílico pintados sobre pedestais Self-Portrait as Pickles, criada em 2008 e apresentada em diversos países desde então, e Spit on Someone’s Soup, de 2003.
Como desdobramento das investigações das estruturas arquitetônicas, Wurm olha também para seu interior e nele o universo de objetos domésticos os quais ele deforma e redimensiona. Exemplos desses são obras como a prateleira derretida feita de bronze e pátina Dodge (2012), a cadeira prensada em um bloco Angst / Lache Hochgebirge e o vaso sanitário comprimido de madeira e resina Toilet (ambos de 2014), o relógio agigantado Lost (2015), o armário que parece ter sido esmurrado em First Ascent – North Wall (2016), entre outras.
Completam o conjunto as One-Minute Sculptures, criadas nos anos 1990, nas quais são os espectadores que dão vida às esculturas a partir das instruções deixadas por Wurm. Essas sugerem que o sujeito permaneça em diferentes posições por um minuto, seja vestindo uma peça de roupa ou posicionando a própria cabeça dentro de um armário, criando assim formas efêmeras que logo em seguida se desfazem. Também serão apresentados 13 vídeos – espalhados em espaços inesperados do CCBB como banheiros, corredores e elevadores -, além de uma grande intervenção na fachada do prédio.
A experiência das obras de Erwin Wurm é menos uma contemplação formal de seus significados ou uma crítica feroz à sociedade de consumo – embora inevitavelmente elas também demandem isso – e mais uma maneira de extrair do espectador deleite e senso de humor. Este último, segundo ele, leva o sujeito a olhar para as coisas com mais cuidado e, portanto, com maior engajamento, por isso ambos (humor e espectador) acabaram se tornando os ingredientes mais importantes do seu gesto artístico.
“Por um período de tempo eu tentei encontrar a forma mais rápida de me expressar. E isso se reflete na minha crença na franqueza. É o mesmo tipo de franqueza que você encontra nos quadrinhos, elemento que eu frequentemente uso em meu trabalho”, resume Wurm. Enquanto muitos artistas se concentram em dificultar a banalidade, o austríaco está interessado em fazer da dificuldade algo leve e acessível.
Serviço:
Exposição Erwin Wurm: O Corpo e a Casa
De 21/04 a 26/06 de quarta a segunda (fecha na terça), das 9h às 21h
Local: Galeria I, II, Pavilhão e Caixa D´água
Entrada franca.
Classificação livre.