A partir desta terça-feira ,30 de agosto, a Embaixada do Brasil em Londres recebe a exposição Brasília – da Utopia à Capital”. A mostra examina as ideias, personagens e percursos históricos que levaram à criação de Brasília em 1960 e a transformaram em síntese do pensamento modernista brasileiro. Concebida como obra de arte completa, a nova capital representa nova fase de interiorização do Poder Público do país, anteriormente concentrado na faixa litorânea.

A mostra exibe acervo de aproximadamente 300 obras de arte e documentos, dentre eles, maquetes de edificios icônicos projetados por Oscar Niemeyer; desenhos e maquete fotográfica do plano urbanístico de Lucio Costa; esculturas de Maria Martins, de Bruno Giorgi e de Alfredo Ceschiatti;  e fotografias de Marcel Gautherot e de Mario Fontenelle. As obras são provenientes de coleções brasileiras públicas e privadas, dentre as quais o Instituto Moreira Salles, o Arquivo Público do Distrito Federal e o acervo da Coleção Brasília — Domício e Izolete Pereira. “A ideia da exposição é mostrar ao mundo as várias facetas das artes que deram vida a cidade. As obras que serão expostas, pela primeira vez em Londres, são essenciais para o entendimento da formação da nova capital. Acredito que essa mostra vai aumentar, ainda mais, a curiosidade dos ingleses sobre um pátgina da nossa história, que nos enche de orgulho”, destaca Danielle Athayde que assina a curadoria da exposição.

Uma epopeia modernista

A transferência da capital do Brasil do litoral atlântico para o centro-oeste do seu território, no início da década de 1960, despertou sentimento de euforia desenvolvimentista na população brasileira. Pessoas comuns, movidas pelo desejo de fazer parte do sonho de construção de uma nova cidade, sede do governo, deslocaram-se do conforto de suas famílias e de suas cidades de origem, em especial do nordeste brasileiro, em direção ao centro-oeste. O Planalto Central, no cerrado brasileiro, de horizonte infinito e de terra vermelha, transformou-se em canteiro de obras de proporções épicas, cujos núcleos de acomodações precárias, sendo um deles Cidade Livre, chegou a abrigar mais de 30 mil trabalhadores durante a construção, que durou três anos e dez  meses.

Concreto aparente

Os chamados candangos”, trabalhadores oriundos de vários campos de conhecimento e, em geral, pertencentes às camadas populares, aprenderam in situ a dominar o emprego e a manipulação do concreto aparente. O material, elemento marcante do Modernismo brasileiro e que encontra ressonância no Brutalismo presente na paisagem de Londres, não admite erros ou retoques. Ao observarmos, com admiração e espanto, a beleza do projeto urbanístico de Lucio Costa, o Plano Piloto, e a harmonia e perfeição das linhas curvas de Oscar Niemeyer, também estamos a observar a excepcional capacidade artesanal dos candangos, sobretudo na elaboração dos pilares do Palácio da Alvorada, inspirados nas redes de casas de fazenda do período colonial, e dos arcos que sustentam o Palácio do Itamaraty, cujas maquetes compõem a mostra.

Plano Piloto

O esforço da construção de Brasília, compartilhado por funcionários públicos, arquitetos, artistas e candangos, poderá ser observado em detalhes pelo público presente nos documentos históricos reunidos pela exposição Brasília – da Utopia à Capital. Entre eles, o projeto Plano Piloto, proposto por Lucio Costa.
Definida por uma área de 21×17 km, Brasília é delimitada, ao sul, pelo Aeroporto Internacional JK; ao norte, pela recente Torre de TV Digital; a leste, pela barragem do Lago Paranoá; e a oeste, pela rodoviária. Maquete do Plano Piloto foi especialmente concebida para a exposição a partir de imagens de satélite, em alta resolução, medindo 6,00×4,80 metros, considerando a escala de 1:3500.

Comissionamento de artistas
As etapas da construção da nova capital brasileira, realizadas em ritmo apressado, de vergalhões de aço e andaimes gradualmente cobertos pelo concreto que lhe conferiu singularidade, foram registradas em belíssimos ângulos geométricos pelas lentes dos fotógrafos Peter Scheier, Marcel Gautherot, Jean Manzon, Mario Fontenelle e Jesco Puttkamer.

Vislumbrada como uma obra de arte completa, com características de museu a céu aberto, o projeto de Brasília comissionou obras a prestigioso grupo de artistas: Athos Bulcão, autor de fachadas, pinturas e azulejos que dão cor ao concreto e se integram à arquitetura, como as fachadas do Teatro Nacional e os paineis de azulejos no Congresso Nacional e na Igrejinha; Marianne Peretti, autora dos vitrais da Catedral Metropolitana; Alfredo Ceschiatti, escultor dos anjos da Catedral; Roberto Burle Marx, artista criador de projetos paisagísticos dos principais espaços públicos da capital, como o Parque da Cidade, o Palácio do Itamaraty, as superquadras, as praças e eixos do plano piloto, além de obras e projetos para seus interiores, para citar alguns.

Algumas dessas obras e seus estudos serão exibidos em Londres pela primeira vez. É o que ocorre com as obras da Coleção Brasília – Acervo Domício e Izolete Pereira com o modelo para a obra Rito do Ritmo de Maria Martins, primeira escultura pública da capital, executada a convite de Niemeyer e instalada nos jardins internos do Palácio da Alvorada, residência oficial do Presidente da República. O mesmo pode ser dito de obras de Bruno Giorgi, como Guerreiros, de representação dos candangos e símbolo do marco da ocupação artística da capital.

Coleção Brasília
O acervo formado pelo casal Izolete e Domício Pereira constitui-se num caso único. Considerados “pioneiros” em razão de residirem na nova capital desde 1959, onde exerceram cargos no Governo Federal e na NOVACAP (companhia responsável pela construção da cidade), reuniram um raro conjunto de obras assinadas pelos arquitetos Niemeyer e Costa, assim como pelos artistas comissionados. O conjunto de obras, documentos e objetos representa um recorte das artes visuais do período e da estética modernista que se estabeleceu no Brasil nas décadas de 1950-60.

Curadoria
Além de reunir elementos relacionados à arquitetura que identificam Brasília, a curadoria de Danielle Athayde propõe analisar a produção artística dos anos de construção da capital, assim como nos encaminha olhar para a representação contemporânea da capital. Nesse sentido, comissionou obras aos artistas Alex Flemming, que faz alusão à arquitetura da Catedral, e Naura Timm, que apresenta série de esculturas inspiradas pelo Cerrado, bioma em que a cidade foi edificada.
A exposição Brasília – da Utopia à Capital é o resultado de extensa pesquisa de Danielle Athayde na Fundação Ortega y Gasset, em Madri, na Espanha. A mostra circulou por 10 capitais, dentre elas Paris, Berlim e mais recentemente, Moscou.

Catálogo
Catálogo bilíngue da exposição — inglês e português, 292 páginas — com textos, imagens e extenso memorial documental do projeto, estará disponível para aquisição.

Parceiros
Brasília – da Utopia à Capital é uma realização Artetude Produções e do Grêmio Recreativo Cacique do Cruzeiro, financiada pelo Governo do Distrito Federal, correalizada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa, e recebeu expressivo apoio da Embaixada do Brasil em Londres.

Informações úteis
Brasília – da Utopia à Capital
Curadoria: Danielle Athayde
Coquetel de abertura dia 30 de julho, das 18h30 às 20h30
Visitação aberta ao público de 31 de julho a 30 de agosto de 2019
Segunda a Domingo – 11h às 18h
Entrada franca
Embaixada do Brasil em Londres
14-16 Cockspur Street
SW1Y 5BL
cultural.london@itamaraty.gov.br