Loreni Schenkel explora sua memória infantil em narrativa artístico-psicanalítica que poderá ser conferida em mostra na galeria Rubem Valentim a partir de 13 de setembro

Pintura, fotografia e escultura. A exposição da artista visual Loreni Schenkel, com curadoria de Rogério de Carvalho, apresenta essas linguagens, em variados suportes que resgatam “Aquilo da infância que ficou pelo caminho”.

A mostra, que poderá ser conferida a partir de 13 de setembro na galeria Rubem Valentim, no Espaço Cultural Renato Russo, embora autobiográfica — para a artista está mais para “psicanalítica” —, propõe um mergulho nas lembranças vividas quando se é criança e que marcam de maneira definitiva os seres humanos.

“Estas lembranças sempre estiveram presentes, mas eu precisava organizá-las dentro de mim. Entender nossa infância é entender o próprio coração. A resposta para muito do que somos muitas vezes está lá, guardada nas perdas, rupturas, traumas, e também no aconchego, em sabores, texturas, sensações… Nossa vida adulta tem muito mais de infância do que imaginamos e esta exposição é um convite à reflexão”, afirma Loreni.

Órfã de mãe aos 10 anos, Loreni viveu uma tormenta emocional na época. A ausência da figura materna; o trabalho na roça ao lado dos irmãos, para ajudar no sustento da casa; o pai que se fazia de forte, mas que chorava aos soluços de saudade da esposa; a falta de sutileza de alguns parentes em lidar com a menina que não largava uma fralda (Zeta) por guardar ali o cheiro da mãe, e não por se negar a crescer; a violência do abate de porcos e do gado que presenciava na realidade do mundo rural; a solidão de uma estrada de barro que trilhou em busca do aconchego da casa da avó, onde se aninhou não apenas em seu abraço carinhoso, mas nas proximidades do fogão a lenha, sempre quentinho e cozinhando algo saboroso, lentamente.

Como num quebra-cabeças — que se tornou literal —, Loreni foi moldando, pintando, fotografando imagens que remontam a esse período tão crucial de sua existência. Em meio à elaboração das obras, uma queda dentro de casa resultou em uma fratura craniana. “Durante três meses não pude fazer nada além de pensar. E pensei muito. O episódio foi parar na exposição, adicionando mais um material ao meu trabalho. Usei as inúmeras radiografias de meu crânio fraturado para unir a menina e a mulher, revelar como uma sempre viverá dentro da outra e compreender que só podemos ser inteiros respeitando nossas cicatrizes”, relata Loreni.

As obras de arte exigiram de Loreni não apenas um profundo mergulho em si mesma, mas o desenvolvimento de modos de trabalho ainda não experimentados. “A arte é fruto de muito trabalho, pesquisa, aprimoramento e estudo. Essa mostra me desafiou demais e eu tive que buscar mais e novas formas para me expressar, além daquelas com as quais tinha mais intimidade. É o caso da fotografia. Ao final, não é só inspiração, dom e talento. É uma entrega verdadeira”, declara Loreni.

Com duas exposições individuais e três coletivas, Loreni parte agora para a mostra mais completa de sua carreira. Em novembro também levará o seu trabalho para São Paulo, em uma mostra ainda em construção.

Serviço:

Aquilo da infância que ficou pelo caminho

Local: Galeria Rubem Valentim – Espaço Cultural Renato Russo

Funcionamento: Abertura 13/09, às 19h. Até 30/10, de terça a sexta, das 10 às 20h

Telefones: 61 9992 7892 e 61 98404 9262