por-carol-thusek-124_1049x699Em 2016, a Cia. Luna Lunera celebra seus 15 anos de existência trazendo à cena seu sétimo espetáculo: “Urgente”, com estreia dia 03 de novembro no CCBB Brasília. A peça, criada em parceria com o Areas Coletivo de Arte, discute as delicadas relações que o ser contemporâneo trava com o transcurso irrefreável da vida. A temporada segue até 11 de dezembro.
É recorrente a impressão de que os dias, meses e anos passam cada vez mais rápido, assim como a sensação de impotência diante disso. Pessoas relatam a infinidade de planos e sonhos que morrem nas gavetas, a vida adiada para um futuro que nunca chega. O presente parece tornar-se, muitas vezes, o cumprimento de um amontoado de obrigações quase mecânicas. Em um mundo ainda regido pela obsessão pelo novo, o envelhecimento das pessoas e dos objetos é visto como ameaça da ampulheta impiedosa. Com 1h40min de duração, “Urgente” busca criar uma pausa, suspender o tempo, para criar com o público um tempo (ou um passado) em comum.
Em um cenário composto por quatro nichos de um metro quadrado cada, onde habitam cinco personagens e suas complexidades, um enredo ficcional não linear se revela aos poucos e se relaciona com retrospectivas de vida dos atores, de dois minutos cada. Como resumir uma vida em um tempo tão diminuto? O que nos marca e nos constitui como pessoas?
Estamos sendo inundados por todos os lados de imagens, sons, informações. Teríamos ainda a capacidade e o tempo necessário para a concentração e a reflexão? Segundo o pesquisador Paul Virilio, o ser humano, mesmo que absorvido pela instantaneidade, tem também a necessidade de contexto, de memória, de cultura – que demandam duração e relação. E, talvez por isso, vivenciamos esta atual e dolorosa busca por sentido.
Há mais de dois mil anos, o filósofo romano Sêneca já dizia que a vida não é assim tão curta, somos nós que a tornamos breve ao nos dispersarmos, ao nos atarefarmos constantemente. Para ele, os “ocupados” estão sempre preocupados com o futuro – que é essencialmente incerto, e perdem assim o tempo presente – o único sobre o qual podemos agir.
Para  Heidegger, um dos grandes pensadores do século passado, nós não somos, e sim estamos. Somos aqui-e-agora e, a cada instante, temos uma série de possibilidades de mudança. Para fugirmos desta responsabilidade, nós nos atarefamos, exatamente para não tomarmos consciência da nossa própria condição, para não encararmos a angustiante realidade do presente.
Ao mesmo tempo que fazemos coisas demais, que nos ocupam demais, parece que muitas vezes vivemos esperando o momento certo em que enfim viveremos de fato. Vivemos esperando o final de semana, as férias, a aposentadoria. Muitas vezes, nos programamos para viver plenamente quando conseguirmos aquela promoção, quando comprarmos o apartamento, quando chegarem os filhos ou quando os filhos crescerem. Como diz a famosa frase do filósofo Blaise Pascal, “nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-nos sempre para ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos”, sem perceber que o que deixamos passar não é apenas tempo, mas nossa própria vida.

Serviço
“Urgente”
Data: 03 de novembro a 11 de dezembro
Horário: de quinta a sábado, às 20h. Domingo, às 19h.
Local: Centro Cultural Banco do Brasil – Teatro I
Endereço: SCES Trecho 2, Lote 22 – Asa Sul, Brasília – DF
Preço: R$20 (inteira) e R$10 (meia)
Classificação: 16 anos
Duração: 1h40min
+ Infos: (61) 3108-7600