Um dos vilões mais famosos dos quadrinhos e cinema ganha nova versão para a telona. ‘Coringa’, dirigido por Todd Phillips tem Joachim Phoenix como protagonista, em excelente atuação e intenso preparo para absorver as nuances do personagem.
Quem espera por um filme de ação cheio de explosões e perseguição vai se surpreender com a trama emocional e atual dentro do contexto político e social em que o mundo passa.
O filme apresenta a história de vida de Arthur Fleck, um palhaço que sonha com a fama na TV e que vive em uma Gotham City caótica, tomada pela violência e descaso do poder público, representados aqui pelo milionário ganancioso Thomas Wayne, pai de Bruce Wayne.
Ele é o típico cidadão adulto, pobre, que vive com a mãe doente e sofre com as mazelas da vida cotidiana. Bullying, desconforto com a própria imagem e nenhuma certeza de um futuro promissor permeiam os pensamentos de Fleck. “Durante toda minha vida eu realmente achava que eu não existia”, declara Fleck.
Apelidado de ‘Happy’ pela mãe, ele pergunta para a sua psiquiatra, funcionária do serviço público de saúde. “Você nunca me ouve, né? Você faz as mesmas perguntas toda a semana. Como está o seu trabalho? Está tendo pensamentos negativos? Só o que tenho são pensamentos negativos”, ele responde.
Ganhador do ‘Leão de Ouro de Melhor Filme’ no Festival de Veneza, Coringa é um tapa na cara da sociedade que insiste em não ver que o desprezo e o abandono são os maiores causadores de problemas mentais e consequentemente os resultados são catastróficos.
No elenco Robert de Niro no papel do sarcástico apresentador de TV Murray Franklin que faz chacota do palhaço mas não tem a mínima noção de quem ele realmente é. A explosão de raiva e o acúmulo de tudo pelo que ele passou até aqui faz com ele se transforme na voz imponente de uma sociedade oprimida e excluída. Ele representa o caos da sociedade moderna.
De imediato me lembrei do longa ‘V de Vingança’ (2006), em que o personagem de Hugo Weaving, um vigilante mascarado luta pela liberdade em uma sociedade opressora pós guerra mundial.
Uns dirão que a insanidade do personagem que o torna violento e sem noção da realidade, mas em minha opinião é ele simplesmente o fruto do descontrole, desigualdade, opressão e falta de perspectiva em que estamos vivendo. Não tem como não simpatizar com a comovente e triste história do vilão mais querido do momento. Coringa escancara com tudo que não presta e tudo que há de amoral no ser humano.