Os alunos da Faculdade Santa Marcelina desenvolveram coleções que destacam a diversidade, reproduzem a força e a representatividade da cultura negra no país e no mundo, por meio de peças que fazem referência a importantes ícones da luta social. A moda é capaz de apresentar muito mais do que roupas. Os desfiles contam histórias, apresentam lutas e protestos nas passarelas.

Marco Aurélio Alves, aluno recém-formado em Moda pela Faculdade Santa Marcelina, reconhecida pelo pioneirismo no estudo acadêmico da área, foi um dos destaques do tradicional Fórum Moda 2018. A aluna Kassia Balbino, também recém-formada no mesmo curso, mostra em seu trabalho as relações sociais da mulher negra no Brasil.

A coleção de Marco Aurélio, denominada Desobediência Civil Negra: Moda como iconográfico e ativismo micropolítico, tem o objetivo de articular a roupa como ferramenta de protesto. De acordo com o aluno, a coleção visa a mostrar sobre como entender-se negro em uma sociedade estruturalmente racista e genocida, a engajar-se na luta e reagir politicamente como única forma de sobrevivência.

“A partir de exemplos de desobediência de Rosa Sparks e Martin Luther King, apresento por meio dessa coleção discussões e uma intervenção de âmbitos sociais, a fim de mostrar o indivíduo negro como protagonista da sua própria narrativa de vida e luta por seus direitos”, conta.

As peças estão pautadas em dois estágios: “O genocídio do negro brasileiro” e “O negro revoltado”. Desde a modelagem, escolha dos tecidos, das cores e dos cortes, até as maquetes têxteis, todo o processo foi cuidadosamente trabalhado para representar o atual contexto do afro-brasileiro.

“O vermelho (cor chefe da coleção) e as cores branco, off white, bege, verde musgo e preto estão associadas à luta, à branquitude, ao desgaste, militarismo e à pele negra retinta”, comenta o aluno.

A estudante Kassia Balbino, em seu trabalho, denominado Praesentia (em português, significa Presença), mostra que a contextualização histórica é importante para o desenvolvimento de uma coleção. O objetivo é mostrar a representatividade da mulher negra no século XVIII e, atualmente, por meio de um recorte que faz referência às mulheres históricas, como Dido Elizabeth Belle e Chica da Silva.

“O tema carrega consigo a delicadeza como um elemento de força ímpar, criando um visual abastado que comumente não é associado às pessoas negras, colocando assim o negro no centro da história”, explica Kassia.

Para Simone Mina, coordenadora do curso de Moda da Faculdade Santa Marcelina, desenvolver o trabalho de conclusão de curso é um dos momentos mais esperados pelos alunos.

“A reta final do curso permite que os formandos se expressem esteticamente por meio do TCC. Mas, principalmente, proporciona a ampliação dos horizontes e uma contribuição reflexiva e conceitual da moda, a fim de que se destaquem no mercado de trabalho”, afirma a professora.