Um espaço impregnado de memórias, individuais e coletivas, que forjou uma parte da identidade do teatro e das artes visuais brasilienses, volta à vida. No próximo dia 10 de setembro, no também simbólico bar e restaurante Beirute, da 109 sul, será lançado “A Nave 508: Espaço dos Insistencialistas”, livro da artista visual Suyan de Mattos, que recupera a história dos férteis primeiros anos do Espaço Cultural 508. A autora e vários dos personagens da obra estarão presentes, no que promete ser um encontro histórico, que irá das 19h às 21h, seguindo todos os protocolos de segurança e prevenção à Covid-19. Na ocasião, a obra estará à venda por R$ 40,00.

A Nave 508: Espaço dos Insistencialistas” resgata a relevância dos emblemáticos Teatro Galpão, Teatro Galpãozinho e Centro de Criatividade, no período de 1975 a 1986, que viria a ser a era de ouro do local, quando este acolheu alguns dos projetos mais inventivos e relevantes das artes do Distrito Federal.

A tiragem inicial de “A Nave 508: Espaço dos Insistencialistas” é de 1.000 (mil) exemplares. Uma parte será enviada àqueles que colaboraram na vaquinha on-line feita para conseguir recursos para sua realização. Outra – 5% da tiragem – será encaminhada ao FAC – Fundo de Apoio à Cultura. E a terceira parte será colocada à venda na Banca da Conceição (308 sul) e na livraria do Chiquinho, no Minhocão da Universidade de Brasília.

O livro teve organização de texto e coedição de Kuka Escosteguy. A realização contou com recursos do FAC – Fundo de Apoio à Cultura da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal.

O LIVRO

Embora tão relevante para a capital brasileira, a história do Espaço Cultural 508 Sul nunca havia sido registrada oficialmente. As informações encontravam-se na memória de cada um que participou dessa aventura. Da mesma forma, as imagens fotográficas permaneciam guardados em gavetas e caixas de papelão pelos próprios artistas e/ou fotógrafos da época. Para conseguir reconstituir toda essa história, Suyan de Mattos fez entrevistas com 53 pessoas. Desta forma, o local voltou à vida, pelas palavras de quem mais o conheceu de perto. “A história oral permite apreender como a memória de um grupo se constitui e se transmite, como reforça sua identidade e assegura sua permanência”, explica a autora.

Todo o trabalho começou em 2017, depois de uma conversa da autora com o saudoso TT Catalão. “Ele falou da importância de recuperarmos a história desse local, tão marcante para a arte de Brasília”, diz Suyan de Mattos. Teve início então um esforço enorme da autora em entrevistar presencialmente os personagens dessa história, primeiro em vídeo e depois em gravações de áudio. O trabalho foi complementado com entrevistas feitas por e-mail.

Inicialmente, o projeto contemplaria um livro e um vídeo com registro das entrevistas, gravadas pelo diretor e produtor Markus Avaloni. Entretanto, optou-se por lançar apenas a obra escrita. Dentre as conversas gravadas, quatro delas estão sendo exibidas no perfil do projeto no Instagram (a_nave_508): com o cantor e compositor Oswaldo Monenegro, com o artista gráfico Alex Chacon, com o ator e diretor Dimer Monteiro, já falecido, e com o poeta e jornalista TT Catalão, in memoriam.

Diariamente, de segunda a sexta-feira, sempre às 19h, pelo Instagram do projeto, Suyan de Mattos também entrevista outros artistas que participaram do período e foram fundamentais para a história do Galpão. As conversas ficam disponíveis para visualização no perfil a_nave_508.

O livro “A Nave 508: Espaço dos Insistencialistas” é dividido em três partes. A primeira contempla a história do Teatro Galpão. A segunda recupera a trajetória do Teatro Galpãozinho. E a terceira dedica-se ao Centro de Criatividade. Em cada uma delas, três capítulos: narrativa histórica, depoimentos e fotografias.

Para compor esse mosaico, foram entrevistados artistas cênicos (atores, atrizes, bailarinas e bailarinos), artistas visuais, músicos, produtores culturais, diretores, ex-diretores do espaço, dentre muitos outros. Pelas páginas do livro passam os depoimentos de nomes como João Antonio (idealizador de todo o espaço), Hugo Rodas, Fernando Villar e Guilherme Reis (responsáveis por alguns dos maiores sucessos do Teatro Galpão), a atriz Iara Pietricovsky, o ator, diretor e produtor Neio Lúcio, a bailarina e diretora Eliana Carneiro, o ator e diretor Humberto Pedrancini, dentre muitos outros, que fizeram a história do local. “Eles atestam a importância daquele espaço para a consolidação do teatro e das artes visuais brasilienses contemporâneos”, revela Suyan.

UM POUCO DE HISTÓRIA

Berço da ousadia, palco de liberdade e experimentação, o espaço começou a ser concebido em 1973, sob a gestão de Ruy Pereira da Silva na direção executiva da Fundação Cultural do Distrito Federal. Galpões utilizados para estocagem de materiais da Novacap foram destinados para a realização de atividades culturais.

Primeiro, nasceu a Galeria A, com exposição do arquiteto japonês Kenzo Tange. Em seguida, foram inauguradas mais duas galerias, B e C. No início de 1974, o embaixador Wladimir Murtinho, então Secretário de Educação e Cultura, autoriza a transformação de um dos galpões em teatro. E em 1975, inaugurava-se o Teatro Galpão, com a peça “O Homem que Enganou o Diabo e Ainda Pediu o Troco”, de Luiz Gutemberg, sob a direção de Laís Aderne. No elenco, nomes que se tornaram referenciais para a arte da capital. O sucesso foi enorme e o lugar se transformou em centro de produção e formação artística. A partir daí, uma sequência de estreias revelou nomes de atores e diretores da cidade e possibilitou ao público de Brasília o contato com trabalhos inventivos que renovaram o teatro brasileiro contemporâneo, como os do grupo carioca Asdrúbal Trouxe o Trombone.

Em 1977, os outros galpões foram ocupados. Nascia o Galpãozinho, espaço que se destinou a grupos de teatro amador e cuja história ficou marcada por ser o palco do Jogo de Cena, conduzido pelo saudoso ator Léo Neiva. Também surgiu o Centro de Criatividade, que se transformou em uma casa de artes, ponto de reunião de artistas, que teve a direção de artistas como Luiz Aquila e coordenadores com o talento do artista Alex Chacon.

Pelo palco do Teatro Galpão passaram montagens antológicas como “O Beijo no Asfalto” e “O Exercício”, ambas dirigidas por Dimer Monteiro; “João sem Nome”, musical de Oswaldo Montenegro; “Flicts”, dirigido por Ary Pararraios; “Os Saltimbancos” “Trabalho nº 1”, “Trabalho nº 2”, “Trabalho nº 3”, “O Noviço” e “Besame mucho”, sob a direção de Hugo Rodas; “A Revolução dos Bichos”, dirigido por Guilherme Reis; “O último rango”, de J. Pingo, “Vidas Erradas ou Pode vir que não morde”, de Fernando Villar; “A Gema do Ovo da Ema”, de Murilo Eckardt; dentre muitas outras.  

Em 1982, o Teatro Galpão paralisou suas atividades para só abrir dois anos depois. Em 1986, todo o espaço teve que ser fechado por problemas estruturais. A narrativa de “A Nave 508: Espaço dos Insistencialistas” chega até esse momento.

Mas a história do Galpão seguiu. Após permanecer 10 anos fechado, o local voltou às atividades em 1996, já com o nome de Espaço Cultural 508 Sul. Em 1999, em homenagem ao líder da banda Legião Urbana, que havia falecido três anos antes, o local ganha o nome de Espaço Cultural Renato Russo.

Dez anos depois, novo fechamento do local, para reforma das instalações e adequação à acessibilidade. E em 2016, o espaço foi novamente entregue à população, reformado e contando com o novo Teatro Galpão e o Teatro de Bolso Robson Graia, Sala Marcantonio Guimarães, galerias, ateliê de pintura, biblioteca de artes, gibiteca, musiteca, sala Multiuso e Galpão das Artes.

FICHA TÉCNICA:

“A NAVE 508: ESPAÇO DOS INSISTENCIALISTAS”

Autoria e Coordenação geral: Suyan de Mattos

Organização de texto e coedição: Kuka Escosteguy

Revisão de texto: Palco y Letras

Elaboração do projeto, Gestão e Produção executiva: Marcia Gomes e Hugo Gomes pela GC Incentivem Produções Culturais 

Projeto gráfico, diagramação e Web Design: Cleber Cardoso Xavier

Produção de vídeo: Markus Avaloni

Decupagem: Leci Augusto

LANÇAMENTO “A NAVE 508: ESPAÇO DE INSISTENCIALISTAS”

Local: Beirute Bar e Restaurante – CLS 109

Data: 10 de setembro de 2021

Horário: 19h às 21h

Preço do exemplar: R$ 40,00*

*À venda na Banca da Conceição (308 sul) e na Livraria do Chiquinho (Minhocão da UnB)