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No dia 23 de setembro, às 17h, será inaugurado no Museu de Arte de Brasília (MAB) a mostra “(CORPO)sições, para danças comoventes como se o tempo fosse cura”, de duplaPLUS + Luisa Günther, com curadoria de Cris Tejo. A exposição reúne registros de dança, fotoproposições e vídeos produzidos a partir de 2009 até 2025, sendo o destaque para as fotodanças realizadas com Ary Coelho entre 2015-2017.

“(CORPO)sições, para danças comoventes como se o tempo fosse cura” é uma grande celebração da vida, dos processos de passagem, do luto e da cura. São 365 imagens + 1 que marcam o início de um novo ciclo. A exposição apresenta ao público 320 séries (alguns como frames únicos de fotodanças, outras em sequência de movimento) + 46 fotografias de momentos mesclados entre montagens anteriores, registros do cotidiano e imagens do contexto do processo criativo, em diferentes tamanhos e suportes de impressão. A linha do tempo que marca a produção começa ainda em 2009, quando Luisa Günther e Ary Coelho dão início ao projeto DUETO, ela vinda da Sociologia, ele, da Dança, ambos das Artes Visuais. 

Em 2015, surge o duplaPLUS, uma resposta aos efeitos com o início das sessões de rádio-quimioterapia de Ary e os efeitos dela sobre o corpo de um bailarino. É um período também conturbado para o País, com o início do processo que levou ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016. Ary desencarna em 2017. O período de luto (que inicia com o diagnóstico) atravessa a vida pessoal de Luisa, mas se camufla com o passar dos anos, período em que o País atravessa uma pandemia e uma crise político-social.  

“Foi nossa adaptação “espontânea” diante a intempérie. A inevitável demanda ou necessidade incontornável de fazer arte”, afirma Luisa Günther. Alguns falam em arte e loucura; Luisa pensa em arte e cura. “E cada um se cura como pode”, diz a artista.  Mas se o adoecimento é coletivo, a ação de cada um só compõe uma possibilidade de melhoria caso o processo de transmutação também seja compartilhado: arte como transformação da dor; arte como alquimia da própria vida; arte como magia e ressignificação; arte como cura. Cada uma das imagens que compõem a mostra tem uma densidade, tem uma história. Cada uma das imagens tem uma narrativa simbólica muito específica. 

Socióloga de formação, Luisa é consciente do fato de que uso da arte como dispositivo para questões de cunho social: seja em sua atuação como professora; seja como artista-propositora. No caso da duplaPLUS, os títulos têm essa carga discursiva: alguns títulos abordam discussões teóricas que me acompanham; outros, são escritas automáticas principalmente no campo do “sentido ampliado”.

“A exposição que se realiza oito anos depois do desencarne de Ary é uma celebração e um gesto de cura. A duplaPLUS é um arquivo vivo, aberto à reinvenção, capaz de se narrar e performar de múltiplas formas. O gesto de Luisa, ao retomar as fotodanças e recompor a obra, encerra um ciclo de luto coletivo e afirma a continuidade da vida”, ressalta Cristiana Tejo, curadora que acompanha o trabalho do duplaPLUS e de Luisa Günther há oito anos.

Entre 2016 e 2017, a curadora Cristiana Tejo iniciou a primeira experiência de acompanhamento crítico online com artistas. Nesse processo, buscava compreender como construir uma coreografia possível — entre as condições do mundo, do tempo e da criação. Desde o início, percebeu que se tratava de arte e vida em estado experimental. A potência vital da arte se afirmava como pulsão, resistência e continuidade.

A colaboração com a duplaPLUS tornou-se um espaço de interseção entre a dança, a fotografia e a existência. Ele vinha da dança; ela, da sociologia. O trabalho comum surgia no cotidiano, entre o doméstico e o público, entre a intimidade e a paisagem. A performance acontecia com o que havia à mão — o corpo, o celular, a luz do momento — e convertia o vestígio em linguagem. O processo foi, também, um exercício de convivência e de reinvenção diante da finitude. A ética desse trabalho estava na pulsão de vida: continuar criando, mesmo quando o corpo cedia. As conversas semanais misturavam arte, política e resistência — o pós-golpe de 2016, a doença, o medo e a esperança teimosa na recuperação, no país, no mundo.

Para Cris Tejo, a arte é um modo de reorganizar as energias, um campo onde espiritualidade e rigor se entrelaçam. Fazer arte é resistir ao embotamento, é permanecer sensível. Na América Latina, onde a precariedade é visceral, a urgência move a criação — o improviso, o puxadinho, a gambiarra como gesto político e poético.

A duplaPLUS situa-se nessa terceira margem: entre o corpo e a imagem, o cotidiano e o sagrado, a arte e a vida. É um trabalho raro e transformador, que desafia as convenções do sistema da arte e afirma o poder da criação como forma de existir. A exposição é, ao mesmo tempo, celebração e testemunho — o relato vivo de quem ainda está aqui para contar essa história.

Programação 

Ao longo do período da mostra, acontecerão aos sábados conversas com artistas, curadores e outros propositores. Aos domingos, performances com convidados especiais. Estão confirmadas as presenças de Rafael da Escóssia, Yana Tamayo, João Quinto (com uma performance no Dia de Finados), Clarissa Borges, Ana Rosa Nabuco, Natasha de Albuquerque, Emerson Dionísio e Silvia Badim (professora da Saúde Coletiva/ UnB Ceilândia). A programação será divulgada pelo Instagram @museudeartedebrasilia e  @a.pilastra . 

Sobre a artista

Professora do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília, Luisa Günther desdobra sua curiosidade em considerações verbovisuais sobre: a) desenho, grafismo e ilustração; b) metodologias para o ensino de-com-para as visualidades; c) escritos de artista, livro-objeto e intermidia; d) métodos de investigação em artes; e) performance e foto-dança; f) panfletagem e mecanismos de circulação; g) sociologia da arte e crítica cultural. “Sigo obediente à intuição, na condição outorgada de escrava cardíaca das estrelas. Palavras me compõem. Cores sussurram em meus olhos. Delírios escorrem de minhas mãos. Sinto o cheiro do tempo. Sei dos disfarces, das mazelas e das manias daqueles que habitam as frestas do abismo das almas. Tenho uma coleção de pessoas que moram em minhas entranhas. Algumas vezes, artista premiada. Outras vezes, apenas melancolia encarnada na roupagem de uma teimosia feliz. Professora-etc. do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília. Figuro entre as estrelas e a ação; entre a desenhura e o destino; entre o sim, o não e o talvez”, afirma a artista que vive e trabalha em Brasília. 

Sobre a curadora

Cristiana Tejo é curadora independente e doutora em Sociologia (UFPE). É investigadora do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa e pesquisadora do Projeto Artistas e Educação Radical na América Latina: Anos 1960/1970. É coorganizadora do Projeto Quarantine juntamente com Lais Myrrha, Marilá Dardot e Julia Morelli. Gere o projeto NowHere – trocas e experimentos artísticos com a artista Marilá Dardot, em Lisboa. É co-curadora com Kiki Mazzuchelli da Residência Belojardim, no Agreste de Pernambuco, e foi co-fundadora do Espaço Fonte (Recife) espaço de residência que recebeu artistas e curadores da Alemanha, França, Espanha, Argentina, Porto Rico, Holanda, Portugal e de várias partes do Brasil. Foi também curadora do Projeto Made in Mirrors, intercâmbio entre artistas do Brasil, China, Egito e Holanda (2007 – 2012). Foi Coordenadora-Geral de Capacitação da Fundação Joaquim Nabuco (2009 – 2011), Diretora do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (2007-2009) e curadora de Artes Plásticas da Fundação Joaquim Nabuco (2002-2006). Co-curou o 32º Panorama da Arte Brasileira do MAM – SP, com Cauê Alves (2011) e o Projeto Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural (2005-2006). Curou a Sala Especial de Paulo Bruscky na X Bienal de Havana (2009). Vive e trabalha em Lisboa.

Sobre o MAB

O MAB (Museu de Arte de Brasília) é um museu de arte e design, foi reaberto em janeiro de 2021 e possui um acervo com mais de 1.400 obras, contando com nomes de importantes artistas, como por exemplo, Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi e Sergio Rodrigues.

Serviço:

 (CORPO)sições, para danças comoventes como se o tempo fosse cura
Exposição de registros de performances 

De | duplaPLUS + Luisa Günther

Abertura: 23/10, às 17h

Local: : Sala de Múltiplo Uso do Museu de Arte de Brasília 

Endereço | SHTN Trecho 1, projeto Orla Polo 03, Lote 05, SHTN Trecho 1 – Plano Piloto, Brasília – DF

Visitação: até 30/11| Quarta a segunda, das 9h às 17h 

Entrada | Gratuita

Classificação indicativa | Livre para todos os públicos
Instagram: @museudeartedebrasilia e @a.pilastra

Produção: A Pilastra