A exposição ‘Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira’, está em cartaz desde sábado na Cavalariças da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV).

O curador da Queermuseu, Gaudêncio Fidelis, o diretor-presidente da EAV Parque Lage, Fabio Szwarcwald, o curador do Fórum Queermuseu e da ação educativa que ocorrerão em paralelo à exposição, Ulisses Carrilho, e o produtor cultural Julio Barroso enfatizam a importância da mostra.

“O momento que se aproxima é muito importante para a democracia brasileira, para a fazer uma demonstração muito contundente de que as parcelas mais progressistas da sociedade brasileira não aceitam a censura, não aceitam o cerceamento da liberdade de expressão e da liberdade de escolha, e de que os princípios mais elementares da democracia foram atacados. Entendo a Queermuseu como a exposição que inaugurou, no centro da sociedade brasileira, o mais extenso debate sobre gênero e sexualidade. E a sociedade brasileira virá a essa exposição para reivindicar o seu direito de ter acesso a ela, que lhe foi roubado de maneira inconcebível. Não será a falsa polêmica que trará as pessoas até aqui”, acredita Gaudêncio Fidelis.

A aguardada remontagem no Rio conta com 214 obras de 82 artistas reconhecidos nacional e internacionalmente, como Adriana Varejão, Alair Gomes, Alfredo Volpi, Cândido Portinari, Efrain Almeida, Guignard, Leonilson, Lygia Clark, Pedro Américo, Sidney Amaral e Yuri Firmeza.

“Contratamos mais uma empresa que vai fazer especificamente a segurança da exposição e que se somará à segurança regular do Parque Lage. Com isso, contaremos com um efetivo de mais de 20 guardas para garantir tranquilidade a todos que vierem nos visitar. Também instalamos câmeras novas dentro da exposição e na área do parque, monitorando 24 horas todas as entradas e saídas”, garantiu Fabio Szwarcwald.

A Queermuseu no Rio contará ainda com apresentações musicais em todos os finais de semana da temporada, como aconteceu nos dois levantes promovidos pela direção da EAV.

“Todos os artistas que irão se apresentar são LGBTs. Também procuramos artistas que atuam na cena alternativa para fazer a programação”, explicou Julio Barroso, sobre atrações que passarão pelo Parque Lage, a partir do dia 18.

A programação de abertura da Queermuseu contempla ainda uma edição da Feira Tijuana de Arte Impressa, a primeira feira de livros de artista organizada no Brasil.

Em paralelo à mostra, como programa público, a EAV promoverá o Fórum Queermuseu, que trará ao Parque Lage nomes como a procuradora Deborah Duprat, a professora e pesquisadora Ivana Bentes, o Prof. Babalawô Ivanir do Santos, o rabino Nilton Bonder, a ativista Indianere Siqueira, Jean Wyllys, Sakamoto, entre outros para promover discussões em torno das manifestações culturais periféricas, das diversas identidades de gênero e orientações sexuais pretendem reforçar o movimento contra a censura e a intolerância, além de reconhecer a pluralidade artística brasileira. A curadoria e coordenação do fórum estão a cargo de Ulisses Carrilho, curador da EAV Parque Lage.

As mesas públicas devem acontecer sempre às terças, quintas e sábados, durante toda a temporada da exposição, que seguirá em cartaz até 16 de setembro de 2018. Entre os temas já pautados, estão: “a judicialização da arte”, “crenças e manifestações religiosas’, “o caso Queermuseu: entre a liberdade e a censura”, “arte e política”, “teoria queer” e “fake news”. Se somará à plataforma o Núcleo de Ação Educativa – também curado por Carrilho – pensado a partir de práticas e políticas queer, com o intuito de adensar os debates levantados pela comunidade LGBTI+ ao longo da exposição.

A história da exposição

A diferença é um dos fundamentos do queer, termo de origem pejorativa que teve seu significado transformado nos anos 1980 na luta por direitos civis e movimentos LGBTI+. Desde então, queer passou a designar a diversidade e o direito a uma existência fora da norma.

“Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira” explora a expressão e identidade de gênero, a diversidade e a diferença na arte brasileira por meio de um conjunto de obras que percorrem um arco histórico de meados do século XX até a atualidade.

Em sua primeira apresentação realizada no espaço Santander Cultural, em Porto Alegre, a exposição sofreu uma campanha difamatória em redes sociais de grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), na qual seus participantes afirmavam que a exposição fazia apologia à pedofilia, pornografia e à zoofilia, além de desrespeito à figura religiosa. Em função disso, ameaçaram boicotar o Banco Santander, que cancelou a exposição. Todas as acusações foram desmentidas pelo Ministério Público Federal, que se manifestou afirmando não haver crime de qualquer espécie, tendo recomendado a imediata reabertura da exposição, o que não ocorreu.

A exposição seria, então, realizada no Rio de Janeiro, pelo Museu de Arte do Rio, porém foi censurada por Marcelo Crivella, prefeito da cidade, que declarou em um vídeo que a exposição só aconteceria “no fundo do mar”.

Queermuseu se propunha a ser um museu provisório, de caráter metafórico, cujo objetivo seria propiciar um campo de investigação sobre o caráter patriarcal e heteronormativo do museu como instituição. Segundo o curador da mostra, Gaudêncio Fidelis, “é uma exposição fundada na democracia e na visão de um processo de inclusão”.

Serviço:
Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira
De 18/08 a 19/09
Horários de visitação: Seg a sex, das 12h às 20h / Sáb, dom e feriados, das 10h às 17h
Local: Escola de Artes Visuais do Parque Lage-Rua Jardim Botânico, 414- Rio de janeiro-RJ
Informações: http://eavparquelage.rj.gov.br/programacao-queer/
Entrada franca