Leandro Lel Lima de São Paulo

13410464_1307935555901733_1007887449_oQuando um artista morre, ele deixa um vazio muito grande em nossas vidas. Eu chorei com Betty Lago, Marília Perâ entre tantos outros. Sempre penso como a minha vida poderia ser impactada com o legado de cada um deles. Como é triste não contar mais com o talento e a sensibilidade desses astros. A minha vida é pautada pela música e as artes em geral.
Muito comum entre as celebridades, o uso de drogas (bebidas, cigarros e remédios para dormir, emagrecer e tratamentos) tem sido a causa frequente da morte de importantes nomes do cenário cultural daqui e também do exterior como Michael Jackson, Whitney Houston e mais recentemente Prince: as drogas colocaram de certa forma um ponto final em suas carreiras.
Lançado pela editora Leya Brasil “A Vida Louca da MPB”, do jornalista Ismael Caneppele, apresenta dezessete histórias que tiveram um fim trágico: Maysa, Renato Russo, Cazuza, Noel Rosa, Tim Maia, Raul Seixas, Cássia Eller, Dalva de Oliveira, Vinicius de Moraes, Carmem Miranda, entre outros fazem parte da obra.

13384856_1307936189235003_1106669583_nO livro faz um resumo da biografia de cada artista, focando, principalmente, nos momentos mais pesados e nos últimos dias de vida de cada um. Em entrevista exclusiva, Ismael conta detalhes do processo de pesquisa e conta curiosidades sobre o seu projeto.

Como surgiu a ideia de escrever o livro? Por que focar na MPB? Pensa em lançar outros com foco nos demais estilos e, principalmente, em artistas internacionais?
A Vida Louca da MPB surgiu a partir de um convite feito por parte da editora Leya para que e eu me debruçasse sobre a vida de personagens intensos e desregrados. Tenho uma literatura ficcional voltada para os jovens e esse diálogo interessava ao livro. Gostaria sim de lançar um segundo volume com outros loucos da nossa música. São desafios instigantes.

Outras áreas como o cinema, teatro e TV também renderiam boas histórias?
Sem dúvida. A loucura é mãe, irmã e amante da criação. Onde houver criação haverá risco. É do risco que nascem as histórias. Queremos ver personagens arriscando alto para viver os seus desejos.

Das histórias apresentadas por você, qual mexeu mais com o seu emocional?
Entre 17 ícones da MPB fica impossível destacar apenas um. Apesar de o livro ser uma serie de perfis, há momentos em que os personagens se encontram. Imagine uma narrativa que começa em Carmen Miranda até Cassia Eller, passando por Maysa, Renato Russo, Cazuza, Noel Rosa, Tim Maia, Raul Seixas… Esse é o livro!

O contato com as famílias foi tranquilo? E as suas fontes?
As minhas fontes advêm de um apanhado das narrativas que a cultura pop fez sobre essas figuras. Mesmo tendo tido contato com familiares, amigos e colegas de trabalho, preferi alimentar a minha narrativa usando o olhar da cultura sobre esses artistas, quase sempre citando as fontes. 

O fato de ter muitas mulheres te surpreendeu? Não é maioria, mas chama a atenção.
Eu acho é pouco. De 17 biografados, apenas 04 são mulheres. Isso é menos de um terço. Lendo A Vida louca da MPB você vai sacar o quanto o mercado fonográfico sempre foi misógino, machista e sacana com as mulheres. Maysa, Dalva e Carmen sofreram pesado na mão dos machos. Cássia foi a única que, obviamente, transgrediu a ordem.

Maysa e Cassia Eller eram mulheres fortes e independentes, Maysa se tornou “livre” depois da separação. Mas Carmem Miranda e Dalva de Oliveira sofreram muito devido ao costumes da época (machismo). Que análise faz sobre a obra de cada levando em conta todo contexto?
São quatro mulheres e quatro tempos distintos. Sinto que Carmen engoliu os homens e foi engolida por eles. Era uma máquina de fazer dinheiro. Dalva viveu um casamento, teve dois filhos, viveu a pobreza desde criança. Lavou roupa suja em público. Assim como Carmen, foi explorada por essa perigosa mistura de marido e empresário. Maysa sempre foi o risco, a intensidade, o descontrole. Autora de clássicos como “Meu mundo caiu”, talvez seja a mais atemporal das quatro. Volta e meia uma faixa sua estoura em alguma produção. Sobre Cassia, talvez o fato de ela ter sofrido febre reumática na infância tenha instaurado na menina a certeza da morte antes dos 40. Cássia, assim como Maysa, viveu um processo necrófilo talvez mais próximo da consciência. Já Carmen não fazia ideia dos efeitos colaterais que tantos remédios para dormir e acordar poderiam causar em seu organismo. A pequena notável foi uma cobaia da incipiente indústria farmacêutica da época e se submeteu a métodos hoje ultrapassados de cirurgia estética. Maysa, por exemplo, chegou a se submeter a uma lipoescultura tendo como método o corte da gordura, ao invés da sucção. Carmen quase morreu em decorrência de uma cirurgia plástica mal sucedida realizada em sua casa de Beverly Hills. Chegou a filmar diversas sequencias usando um nariz de cerâmica para disfarçar o estrago.

Ao finalizar cada história parou pra pensar no que cada um poderia contribuir ainda mais para a nossa cultura?
A contribuição de todos eles ultrapassa o meu pensamento ou entendimento.
São 17 vidas que falam por si. O meu trabalho foi catalogar os fatos e apresentar uma linha narrativa, sem essa preocupação específica, visto que essa contribuição é um fato.

Algum artista “precisou” ficar de fora por conta de autorizações da família?
Nenhum.

Qual o seu intuito ao lançar o livro? Contar a histórias de artistas que ajudaram a construir a MPB, ou fazer um alerta aos jovens sobre o uso excessivo de medicamentos e drogas?
O intuito sempre foi conhecer mais sobre cada um deles e deixar que a historia falasse por si. Não cabe a mim e nem a arte alertar ou educar. O uso do livro cabe a cada um. Me interessou entender a potencia do vicio na criação e na construção de uma persona, e de como essa figura é assimilada pela cultura pop. O livro é uma pesquisa sobre mercado, criação, drogadições e por aí vai…

13393135_1307936395901649_2082775950_nSugestão: 1965 – O ano mais revolucionário da música, Andrew Grant Jackson
1965 é um relato fascinante de um ano definitivo para a cultura mundial, que produziu alguns dos maiores artistas, álbuns e músicas de todos os tempos. Não deixe também de ouvir a rádio criada com as músicas citadas pelo livro no aplicativo Spotify.