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O documentário ‘Martírio’ de Vicent Carelli, exibido na noite de quinta-feira (22), toca fundo na ferida da questão indígena no Brasil e mostra em 2h40 toda a trajetória dos índios Guarani Kaiowá no território brasileiro. O extermínio ao longo dos anos, a desapropriação de suas terras e a vida errante e batalhadora de um povo que sofre há décadas em busca de seus direitos.
Depoimentos, testemunhos, imagens de arquivo e narrativa do próprio diretor sobre as questões que envolvem a crise que se perpetua e parece não ter fim. Também políticos e os próprios agricultores, cada um com seus argumentos e a certeza de que a é preciso dar visibilidade à questão, principalmente na mídia, para que eles não sejam esquecidos.
“Eu tenho me dedicado a dar mais visibilidade a este assunto desde que terminei minha tese e voltei para minha região, constatando o que estava acontecendo. A grande mídia não mostra, mas está havendo um genocídio. Eu tenho usado as redes sociais para sensibilizar a população”, revelou, lembrando o episódio em que vários usuários do Facebook fizeram seus nomes serem acompanhados do sobrenome Guarani-Kaiowá, como forma de apoio à causa.

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O diretor Vicent Carelli

Grandes latifundiários em seus agronegócios, basicamente os criadores de gado e plantadores de soja são os maiores responsáveis pela chacina que ocorre frequentemente nos acampamentos das famílias indígenas.
“Eu me lancei nesta última etapa do filme – porque no passado eu fiz muitos registros -em plena agressão, em pleno lobby poderoso da bancada ruralista. E estes integrantes da bancada ruralista são personagens chave da história. Quando eu descobri o material do qual eles se orgulham tanto, os discursos que eles postam no YouTube, decidimos usar, já que são pessoas públicas e em nome da transparência. O contraponto era mais do que necessário para mostrar o embate. Eu nunca conheci um povo mais resistente do que o Guarani. Uma família guarani é um povo! Há 500 anos, guardam a língua, a religião, as tradições. É o povo mais resistente que eu conheço no embate com a parte mais conservadora, mais retrógrada do País”, esclarece Vicent.
“O Brasil tem que acertar uma dívida com o povo indígena, não só com os guaranis. O País está se esquivando de acertar com a gente a dívida histórica. E continua com o massacre”.
‘Martírio’ é o segundo filme de uma trilogia que teve início com ‘Corumbiara’, premiado documentário de 2009, em que Carelli aborda o genocídio dos índios isolados. Martírio apresenta o genocídio contemporâneo. E o terceiro, já em fase de produção, é ‘Adeus Capitão’, em que o diretor oferece um painel do processo de indenizações de indígenas da Amazônia.

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