ggggUma família, um crime, a omissão, o ódio e o prenúncio de uma tragédia. A história se passa nos tempos atuais, em um lar despedaçado pela ausência de afeto e endurecido pela existência de um grande segredo. Ou será que não há segredo, mas sim a negação como mecanismo de defesa? É o que o espectador irá descobrir na peça Trinta gatos e um cão envenenado, que estará em cartaz entre os dias 5 e 21 de agosto, no Teatro Goldoni (208/209 Sul), de sexta a domingo.
O enredo é protagonizado por Zeza, uma jovem que vive aprisionada pela dor e rancor alimentados diariamente pelas lembranças da traumática infância. Religiosa, a mãe sabe de tudo, mas nega até o fim. O pai tenta a todo custo evitar o assunto e passa boa parte do tempo bêbado. Já o irmão mais velho só pensa em abandonar esse ambiente sufocante, e construir um novo lar. Assim, cada membro da família, que deveria ser fonte de confiança e proteção, busca escapes, enquanto Zeza mergulha sozinha na própria angústia earquiteta um plano de vingança contra seu agressor.
Instigado pela capacidade que o ser humano tem de alimentar um desejo de vingança, o autor da peça, o escritor Geraldo Lima, inspirou-se em Medeia, tragédia grega de Eurípedes, na qual a personagem mata os filhos para punir o marido. Transportando esse sentimento tão primitivo para os dias de hoje, Geraldo utiliza uma mescla de linguagens que reúne tragédia grega, teatro do absurdo, naturalismo, teatro do fantástico ehorror.
Mas o objetivo da montagem vai muito além da abordagem de temas atuais e denúncia por si só. A ideia é alertar, mas sob um olhar artístico e estético. “O assunto da peça está presente em nosso dia a dia, é debatido a todo instante em telejornais, documentários… Tenho consciência de que o tema é importante, mas não quis que o espectador perdesse a noção de que está diante de uma obra de arte. Vamos mostrar o que umnoticiário não mostra, o dia a dia da vítima, os conflitos. O público poderá presenciar isso, ao vivo, com todas as tensões”, pondera Geraldo Lima.
A peça conta ainda com elementos como o coro, intervenção musical que entra em ação ao longo das cenas como artifício para intensificar o drama e o suspense. Sob a batuta do diretor André Amaro, unido ao talento do Grupo Caleidoscópio, o coro ganha ares contemporâneos, com sons extraídos do próprio corpo dos atores. “Gosto de explorar os potenciais ao máximo. Como o elenco é formado por artistas que são também cantorese compositores, utilizamos vozes e os corpos como instrumentos musicais para compor a narração. Isso ajuda a construir o ambiente trágico que a história evoca”, explica Amaro.
O elenco é composto por Pecê Sanváz (pai), Vanessa di Farias (Zeza), Lilian França (mãe), Thiago de Moraes (filho) e Flávia Neiva (integrante do coro). As sessões serão realizadas às sextas e aos sábados, às 21h; e aos domingos, às 20h. Os ingressos custam R$ 20,00 a inteira e R$ 10,00 a meia-entrada. A classificação indicativa é 16 anos. A apresentação é do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).
Como escritor, Geraldo venceu, em 1984, um dos mais importantes concursos literários do país, o Concurso de Contos de São Bernardo do Campo (SP). Em 1987, ganhou o Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária, que resultou na publicação do seu primeiro livro, A noite dos vagalumes (contos, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária, FCDF). Publicou, ainda, Baque (conto, LGE Editora/FAC), Nuvem muda a todo instante(infantil, LGE Editora), UM (romance, LGE Editora/FAC) Trinta gatos e um cão envenenado (peça de teatro, Ponteio Edições) e Tesselário (minicontos, Selo 3×4, Editora Multifoco).
Participou de algumas antologias literárias, como: Antologia do conto brasiliense (org. por Ronaldo Cagiano, Projecto Editorial/FAC, 2004); Todas as gerações – o conto brasiliense contemporâneo (org. por Ronaldo Cagiano, LGE Editora, 2006); Todos os portais: realidades expandidas (antologia de contos de ficção científica org. por Nelson de Oliveira, Terracota, 2012); e Veredas: panorama do conto contemporâneo brasileiro (org. por Anderson Fonseca e Mariel Reis, Oito e Meio editora, 2013).

Trinta gatos e um cão envenenado
De 5 a 21 de agosto. Às sextas e aos sábados, às 21h; aos domingos, às 20h.
Local: Teatro Goldoni (EQS 208/209 Sul, Lote A, Ed. Casa d’Italia, Asa Sul, Brasília-DF).
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada).
Informações: (61) 3244-3333. 
Classificação Indicativa: 16 anos.