Por Josuel Junior

Conheci essa moça nos bastidores do Teatro Dulcina quando ensaiava ” As artimanhas de Scapino” (dirigido por Jonathan Andrade em 2009), a vi em cena em “Chá e Cianureto” (dirigido por Fernando Guimarães em 2010) e tive a honra de contracenar com ela em “Festim Diabólico” (dirigido por Rodrigo Fischer em 2011). Uma das atrizes mais disciplinadas com quem pude contracenar . Precisamos falar de Maria Eleide Moreira!
Moradora de Brazlândia/DF, Maria Eleide Moreira é uma daquelas atrizes que falam pouco, que têm olhos observadores de quem está atenta a todas as dicas, regras e técnicas dos diretores. Assumidamente tímida, precisa levar uns sacolejos pra entender que é boa, pois se a gente não fala, ela não acredita

Lembro de sua figura nos corredores da Faculdade Dulcina, no período em que estudei lá. Eu estudava licenciatura em Ed. Artística e ela bacharelado em Interpretação Teatral. Quando terminei a primeira graduação e emendei também no bacharelado, topei na mesma sala de aula que ela. Tivemos um semestre pra nos conhecer e atuamos no espetáculo “Festim Diabólico”, uma versão teatral do filme homônimo “Hope” (vide tradução brasileira) de Hitchcock. Na peça, éramos vilões (bem do mal mesmo) e havia uma espécie de contracena com projeções em vídeo. Fizemos a peça e ela estampou o banner principal instalado no Teatro Dulcina. Ali eu já percebi que estava ao lado de uma grande atriz. Nos formamos juntos na época, inclusive.

Foram muitos os estudantes/atores da Faculdade Dulcina que despontaram no mercado, mas acho que Maria Eleide (mesmo não estudando mais lá) é uma das que mais fizeram peça na nas Mostras Dulcina, evento artístico-acadêmico promovido pela instituição). Sério… se brincar, ela, Marco Michelângelo, Valéria Rocha, Hugo Amorim, Leandro Menezes, Luciana Amaral, Thiago Nery, Carlos Valença e esse rapaz que vos escreve tenhamos sido aí os atores que mais bateram ponto nos camarins dulcinianos. Dona de uma voz forte, um senso de improviso apurado e de uma seriedade com o trabalho invejável, pouco a pouco vai conquistando o mercado de trabalho brasiliense, trazendo sempre a disciplina e a sensibilidade de quem tem muito o que ensinar e aprender. Parece demagogia barata, mas se você trabalhar com ela, vai entender do que estou falando.
Recentemente, a reencontrei no Festival Cena Contemporânea 2017. Ela fez parte da Oficina Dionísia, que contou com diversos professores-artistas da cidade. Quando lemos sua ficha de inscrição, me perguntaram informalmente quem era ela no processo de seleção. Respondi timidamente pra não interferir no processo de escolha e fui feliz ao vê-la participando da imersão de três dias na Casa Medusa, do Lago Norte. Lá iria acontecer uma série de exercícios cênicos com os participantes como encerramento da oficina. Vi muitas cenas fortes, impactantes, poéticas… e, não ignorando tudo o que vi, pude novamente perceber a força de Eleide num esquete. A bicha é boa, véi… vai por mim! A bicha é boa!

Meses depois, estive participando do Brasília Cênica, outro grande evento de Brasília onde oito espaços da cidade possuíam programações artísticas gratuitas às comunidades. Para minha surpresa, o espetáculo “Cicatrizes”  (Cia, EM COMMA), dirigido por Ernandes Silva com monólogo de Maria Eleide, era uma das atrações do Espaço Imaginário Cultural de Samambaia! Essa peça participou do 5° Festival Nacional de Teatro de Floriano/ Piauí e sabe quem levou o prêmio de Melhor Atriz? Pois é… Ela!
Atualmente, é atriz convidada da peça “Apartamento 403”, dirigida por Fernando Guimarães e parte componente da 26ª Mostra Dulcina. A peça, em cartaz até 19 e novembro, apresenta a paranoia de habitantes de um prédio em reforma com medo da violência urbana. Mesmo já formada há alguns anos, Eleide é presença garantida em alguns projetos da faculdade. Está sempre por lá. Na verdade, ela não apenas está na peça… Ela entra em cena como um furacão e domina a porra toda. Em 5 minutinhos já fica com a plateia nas mãos. A gente assiste e já fica torcendo para que retorne à cena imediatamente. Parece uma afirmação superlativa, mas não… Vá assistir e veja como o ritmo da encenação muda brusca e positivamente com sua entrada. Todo nosso grupo foi assistir à obra ontem e levamos alguns atores estrangeiros para prestigiar o espetáculo. Pela dificuldade do idioma, claro, não compreenderam muito o texto (falam espanhol), mas não faltaram elogios à ela quando retornamos ao alojamento. E foi unânime: Todos citaram a fluidez com a qual dominava a caixa cênica e o trabalho corporal que possui, quase baseado em pantomimas e pequenas gags clownescas.
Você, que está lendo esse texto, já fica aí a dica pra assistir. Ressalto também que nos dias 15 e 16 de novembro, a peça divide pauta com “Te amo con locura”, obra argentina convidada para a mostra e que traz a história de um rapaz que sequestra o melhor amigo para lhe revelar uma paixão escondida! Mas, calma! Dá pra ver tranquilamente as duas obras! É só ficar atento aos horários.
TE AMO CON LOCURA – 15 e 16 de dezembro, às 20h, na Sala Conchita
APARTAMENTO 403 – 13 a 19 de dezembro, às 21h, no Teatro Dulcina

Pensa que acabou? Que nada! A atriz também está no elenco de “Cordel do Sertão Alado”, espetáculo que vai bater asas lá em Taguatinga/DF nos dias 14 e 15 de dezembro. Para atuar na peça da Mostra Dulcina, excepcionalmente, não estará nas sessões de Taguatinga, mas aí você já percebe a versatilidade dela e ainda tem um monte de opções teatrais pra decidir o que quer ver durante a semana…
Maria Eleide Moreira é uma profissional digna de indicações para o seu projeto cultural, caro leitor… para compor a linha de pesquisa de seu grupo. Está no fluxo, como todos nós… buscando aperfeiçoamento e aos poucos mostrando a que veio. Não é famosa no DF (ainda), não está trabalhando com você (ainda), mas é talentosa pra caramba, decora texto numa facilidade absurda, é dedicada ao trabalho, possui um tempo muito bom pra contracena e a indico sem medo de ser feliz! Indico porque pessoas sensíveis como ela no mundo das artes vão alimentando o fluxo de produção teatral dentro e fora de nosso tão querido quadradinho.
Precisamos falar de (e contracenar com) Maria Eleide Moreira.

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